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Método inovador ajuda na descrição de novo molusco carnívoro

Brasileiro foi pioneiro no uso de microtomografia para caracterização taxonômica de invertebrados marinhos

Por Luiz Paulo Souza Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 10 set 2024, 15h00
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  • A descrição de novas espécies costuma ser um processo demorado e rigoroso. Ao longo de cerca de 13 anos, cada novo bichinho é fotografado, dissecado, fatiado e escaneado para que cada detalhe da sua morfologia seja meticulosamente relatado. Agora, no entanto, isso pode mudar – e um brasileiro está envolvido nesse processo. 

    O ator principal dessa história é o Lyonsiella illaesa. O pequeno molusco vive a cerca de 5 mil metros de profundidade e só dois espécimes dele são conhecidos pela ciência, coletados na Fossa Aleutiana, no Alaska. Carnívoro, ele se alimenta de larvas de outros animais e é parcialmente responsável por equilibrar esse ecossistema ainda largamente desconhecido. 

    O mais interessante sobre ele, no entanto, foi a maneira como foi descrito. “Esse illesa é porque ela passou intacto pelo processo de descrição”, diz Fabrizio Machado, professor visitante na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), em entrevista a VEJA. “Como nós tínhamos só dois indivíduos, eu não podia destruir um deles, então utilizei microtomografia para dissecar virtualmente, entender a anatomia interna e fazer a reconstrução em três dimensões.”

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    Geralmente essas espécies são muito raras, então conseguir fazer essa descrição e ainda assim manter o animal íntegro é um desafio. Os espécimes do Lyonsiella illaesa, por exemplo, estão agora no Museu de Frankfurt e poderão ser acessados por outros pesquisadores para continuarem sendo investigados. 

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    MICROTOMOGRAFIA – Lyonsiella-illaesa: montagem mostrando uma foto da primeira nova espécie de molusco descrita em detalhes sem o uso de qualquer ferramenta destrutiva (esquerda) + imagem tomográfica 2D mostrando detalhes da anatomia interna do bivalve (direita) (Fabrizio M. Machado/Divulgação)

    Machado foi pioneiro no uso dessa ferramenta na descrição de invertebrados. “Nós sempre tentamos encontrar formas não invasivas de fazer essa caracterização”, ele diz. Isso começou em 2019, quando ele estava realizando no doutorado, na Unicamp. O acesso ao equipamento, no entanto, era restrito, então ele foi para Harvard para aproveitar um microtomógrafo que estava disponível. “Imagine o tanto de resultados que eu não consegui produzir”, afirma. 

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    O trabalho deu certo e em 2022 ele foi convidado para fazer o pós-doutorado na Alemanha, onde auxiliaria na descrição de espécies do mar profundo. 

    Por que descrever essas novas espécies?

    Na Europa, Machado auxiliou no trabalho realizado pela Aliança Senckenberg de Espécies Oceânicas (Sosa). Como descrito em reportagem de VEJA, o grupo conseguiu acelerar a descrição de novas espécies marinhas, caracterizando 12 delas em uma mesma publicação — e em apenas 7 anos, um tempo recorde. 

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    Esse esforço se faz essencial em um momento em que esses ecossistemas estão ameaçadas por projetos de exploração mineral. Embora os ganhos econômicos proporcionados pela mineração possam ser grandes, especialmente frente à grande demanda imposta pela transição energética, eles colocam em risco espécies ainda desconhecidas pela ciência. Hoje, estima-se que 90% dos animais vivendo no fundo do mar sejam incógnitos, o que torna patente a necessidade de aumentar nosso conhecimento sobre esses seres – o que pode ser ainda mais benéfico se as espécies puderem passar intactas por esse processo. 

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