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10 milhões de eleitores em disputa

Grupo já votou no PT e no PSDB e esteve com Bolsonaro em 2018

Por Alon Feuerwerker Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 12h31 - Publicado em 14 ago 2022, 08h00
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  • Um contingente muito específico de eleitores está no foco da disputa entre os dois principais competidores, no momento, da sucessão presidencial. São cerca de 10 milhões de pessoas que nas duas últimas décadas já votaram tanto no PT de Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff quanto contra o PT. Estiveram em parte com o PSDB de 2006 a 2014 e maciçamente com Jair Bolsonaro em 2018.

    Esse grupo abandonou o PT quatro anos atrás principalmente por causa das denúncias de corrupção, mas é simplista parar por aí. As denúncias de Roberto Jefferson em 2005 não impediram o petismo de sobrepujar, e bem, os adversários em 2006 e 2010. As ações foram julgadas e as condenações, proferidas no primeiro mandato de Dilma. Mesmo assim, ela conseguiu um segundo quadriênio.

    A fórmula explosiva que levou ao impeachment dela teve não um, mas dois ingredientes: a Lava-Jato e a recessão. Governos até se salvam de escândalos quando têm sólida base político-­parlamentar e a economia caminha pelo menos razoavelmente, do ângulo do povão. Quando a economia engasga, a intolerância com denúncias de malfeitos cresce aceleradamente. Aconteceu em 2015-16.

    A economia costuma comandar, mesmo quando outras variáveis têm mais visibilidade. O mecanismo parece repetir-se. Segundo as pesquisas, a percepção de melhora no cenário econômico começa a mexer nos índices de aprovação do governo. Será uma surpresa se isso não repercutir em algum grau nas intenções de voto do candidato à reeleição. Mesmo enredado em outras polêmicas.

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    “Resta saber se haverá tempo para que a virada na conjuntura econômica se cristalize nas intenções de voto”

    A recuperação econômica era previsível, e foi prevista, pela volta completa das atividades produtivas e comerciais, mesmo que a Covid-19 ainda esteja matando por aqui mais de duas centenas por dia. Mas isso aparentemente deixou de ser notícia. Ajudam também as exportações anabolizadas pelo câmbio, mesmo com a tormenta econômica global provocada em torno da guerra na Ucrânia. E a recuperação vem acompanhada da queda do desemprego.

    Até semanas atrás, o que travava a sensação de melhora era a inflação resistente, mas a conjugação das medidas agressivas para baixar o preço dos combustíveis com o igualmente agressivo aperto monetário promovido pelo Banco Central parece estar contendo a alta dos preços. É provável que a eleição transcorra num ambiente de emprego em recuperação e menos inflação.

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    A oposição programou-se para uma jornada eleitoral com a população tomada pela sensação de agudo mal-estar com a economia. As dificuldades ainda são muitas, especialmente entre os mais pobres, a inflação da comida machuca, mas a irritação persistente com o governo na classe média e na elite econômica parece registrar alguma dissipação. E agora começou a ser pago o Auxílio Brasil de 600 reais.

    Resta saber se haverá tempo para que a virada na conjuntura econômica se cristalize nas intenções de voto — e no voto. O tempo teoricamente é curto, mas em períodos eleitorais ele costuma correr de um modo diferente.

    Publicado em VEJA de 17 de agosto de 2022, edição nº 2802

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