As pesquisas apontam que, se a eleição fosse hoje, Luiz Inácio Lula da Silva derrotaria Jair Messias Bolsonaro. Mas a eleição é só daqui a pouco mais de longos cinco meses. Então é preciso olhar para os possíveis caminhos de cada contendor, e aí tentar antecipar os cenários prováveis no desfecho.
A maioria dos hoje inclinados ao ex-presidente petista são eleitores fiéis. Fernando Haddad fez 30% dos votos válidos no primeiro turno de 2018 e chegou a 45% no segundo, no auge do desgaste de Lula e do Partido dos Trabalhadores. Mas Haddad perdeu. Se Lula hoje lidera, é por atrair parte dos eleitores de Bolsonaro quatro anos atrás.
É razoável supor que, se a pessoa votou em Jair Bolsonaro em 2018, não há uma barreira intransponível a que repita o voto. E o que está fazendo certo pedaço do eleitorado largar o atual presidente pelo ex? Em especial as dificuldades econômicas e o comportamento de Bolsonaro na pandemia.
A rejeição a Bolsonaro é o grande ativo de momento de Lula. Daí que o principal combustível hoje do petista seja também seu principal risco eleitoral. E se ao longo da campanha Bolsonaro reduzir a rejeição entre 5 e 10 pontos? Ou aumentar a aprovação esse tanto, o que dá na mesma? Está longe de ser impossível.
“Incumbentes costumam ver a aprovação subir ao longo da campanha, e não há motivo para Bolsonaro ser uma exceção, a priori”
Em relatório recente, a consultoria Eurasia cita um levantamento da Ipsos Public Affairs, a partir do resultado de mais de trezentas eleições mundo afora ao longo dos últimos trinta anos. Segundo o estudo, uma aprovação de 35% a seis meses da eleição, o patamar hoje de Bolsonaro, dá ao incumbente 36% de chance de reeleição.
Não se deve confundir “aprovação” com o “ótimo+bom”. Aprovação só pode ser corretamente medida quando se pergunta ao pesquisado se ele aprova ou desaprova a administração ou o governante. Até porque a parte do “regular” que diz aprovar o governo certamente está permeável à possibilidade de votar no situacionismo.
Mas, segundo o mesmo estudo, se a aprovação for de 45%, a possibilidade de vitória do incumbente sobe para 78%. Claro, quando o candidato se aproxima da maioria dos votos válidos, cresce substancialmente a chance de levar a taça.
Incumbentes costumam ver a aprovação subir ao longo da campanha, e não há motivo para Bolsonaro ser uma exceção, a priori. Mas ele deve enfrentar um obstáculo complicado: a resiliência das dificuldades econômicas. Depois de dois anos de pandemia, veio uma guerra na Europa com repercussões globais.
Que novas medidas econômicas o governo vai adotar para chegar a outubro mais competitivo? Ou vai só rezar e torcer? E qual será a linha de comunicação para reduzir a rejeição do presidente até lá? Uma coisa é certa: se Bolsonaro está em desvantagem, tem, como qualquer governante, instrumentos para aumentar sua competitividade.
Todos os presidentes brasileiros reelegeram-se desde que se pôde reivindicar um segundo mandato. Mas novidades sempre estão à espreita, como o próprio Bolsonaro provou em 2018. O que vai prevalecer?
Publicado em VEJA de 27 de abril de 2022, edição nº 2786