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Augusto Nunes

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‘Guia das novas profissões’, um texto de Nelson Motta

Publicado no Globo desta sexta-feira NELSON MOTTA Com 17 anos, meu neto está na idade de escolher uma profissão. Feliz de quem já sabe o que quer fazer para viver, a maioria quase sempre só tem dúvidas, como o avô no seu tempo, que queria mas não tinha talento para ser músico, estudou para ser […]

Por Augusto Nunes Atualizado em 31 jul 2020, 05h12 - Publicado em 11 out 2013, 17h56

Publicado no Globo desta sexta-feira

NELSON MOTTA

Com 17 anos, meu neto está na idade de escolher uma profissão. Feliz de quem já sabe o que quer fazer para viver, a maioria quase sempre só tem dúvidas, como o avô no seu tempo, que queria mas não tinha talento para ser músico, estudou para ser designer, mas criou as filhas escrevendo letras de música, livros e crônicas de jornal.

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Meu neto já fez sua escolha, mas tentei chamar sua atenção para opções mais modernas, que só o Brasil de hoje oferece. Quando eu tentava escolher uma profissão em 1961, ninguém podia imaginar ter uma igreja, mas hoje há até anúncios em jornal de cursos para criar igrejas. Ser famoso por 15 minutos não é nada, ter sua própria igreja supera a profecia de Andy Warhol, rende e dura mais do que a fama e é tax-free.

Num país onde quase todas as organizações não governamentais vivem de verbas governamentais, ter a sua própria ONG é uma das melhores opções profissionais. Qualquer ONG, com qualquer finalidade, o mais trabalhoso é conseguir as verbas para os “cursos de capacitação”, depois é pagar as comissões e correr pro abraço.

A Alemanha tem 15 sindicatos, mas o Brasil tem treze mil. Aqui é mais fácil abrir um sindicato do que uma empresa, basta o apoio de alguma das várias centrais. Há dinheiro para todos: o imposto sindical garante um dia de trabalho de cada brasileiro para ser dividido entre eles. Além disso, sindicalista se tornou uma das profissões mais valorizadas do país, com altos cargos e salários em ministérios e estatais.

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Um partido político dá mais trabalho para criar do que um sindicato, custa bem mais caro, mas qualquer zé-mané pode fazer o seu. O investimento é grande, mas é uma fábrica de dinheiro e vantagens.

O “militante funcional” é outra carreira em ascensão. Nada de agitar bandeirinha e gritar slogans na rua. Com o aparelhamento de ministérios e estatais, qualquer funcionário, concursado ou não, de qualquer profissão, deve se filiar ao partido no poder para garantir suas promoções e cargos, não como nomeação política, mas como “técnico de carreira”.

Mas não adiantou nada, meu neto quer ser advogado, gosta de justiça e de Direito.

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