Publicado na coluna de Carlos Brickmann
Seu nome em grego é Éris; seu título, a Deusa da Discórdia. Seu pai era Zeus, o barbudinho que se achava o deus dos deuses, e que hoje é apenas peças de pedra bem esculpida ou lindas joias guardadas em museus, trancadas para não sumir. Seu nome clássico é Éris, mas pode chamá-la de Dilma, a presidenta. Dilma foi a deusa da discórdia antes de ser presidente, demolindo grosseiramente o plano de economia de despesas (“é rudimentar”, disse) do ministro Antônio Palocci. No Governo, conseguiu romper até com o PMDB, jogando-o na oposição. Levou Joaquim Levy para a Fazenda, para cuidar de um plano tão rudimentar quanto o de Palocci, mas bloqueou seu trabalho e entregou-o às feras. Da oposição? Não, da situação. Até o presidente nacional do PT, Rui Falcão, malhou Levy. As mais delicadas e amestradas centrais sindicais, aquelas cuja maior divergência era responder “sim” ou “sim, senhora”, morderam os calcanhares do Governo. Passeatas de esquerda, como a do Passe Livre, foram substituídas por protestos que pavimentaram o impeachment.
Por ela, dizem hoje João Santana e Mônica Moura, mentiram à Justiça. Não queriam ajudar o impeachment. Era desnecessário: ela tinha Lula a seu lado, se recusou a ouvi-lo, e o jogou no meio da crise com a ideia, que achou ótima, de nomeá-lo ministro. Caixa 2? Não sabia de nada, claro.
Dilma, a Éris de hoje, põe a culpa nos outros. Mas vai pagar por ela.
Aos amigos, a culpa
Mônica Moura e João Santana admitiram em sua confissão que, quando receberam no Exterior parte de seus pagamentos via empreiteiras, sabiam que se tratava de dinheiro de Caixa 2. Dilma disse que não sabia de nada e que, se soubesse que havia Caixa 2, não autorizaria o pagamento. Deve nega, pagou mas disse que não pagaria. Hoje, até seus marqueteiros devem estar agastados com ela. A piada dos dois neurônios, é óbvio, não tem um pingo de verdade. Se tivesse, um neurônio estaria brigando com o outro.
Os números falam
Quando o processo de Dilma foi iniciado na Câmara, ela precisava de 171 votos de deputados. No interrogatório de Mônica Moura, o juiz Sérgio Moro lembrou que a empresa dela e de João Santana recebeu do PT, legalmente, R$ 171 milhões. Coincidências querem dizer alguma coisa?
Recordação
O artigo do Código Penal que trata do estelionato é o 171.
Sem fantasia
A última pesquisa Datafolha mostra que 58% dos eleitores estão fartos de Dilma.
O sonho de cada um
O sonho de Martin Luther King era um mundo pacífico, onde não houvesse racismo. O de Dilma, divulgado pelo twitter, é reverter o processo de impeachment. “Temos a grande chance de reverter o processo de impeachment. Os senadores têm nível de responsabilidade muito forte, são grandes lideranças”. Quantas verdades há nessa frase?
Adeus, Cunha
A batalha terminou, Eduardo Cunha perdeu. O mandato já era faz tempo, mas Cunha queria arrastar o processo até janeiro. Não deve passar de agosto.
Acredite se quiser
Pedro Paulo, candidato do PMDB à prefeitura do Rio, acusado de espancar sua então esposa, procura encontrar um bom nome para vice. E quer que seja mulher. Duas deputadas estaduais pelo PDT, Martha Rocha e Cidinha Campos, recusaram o convite. Têm vergonha na cara.
Guerra ao terror
Pode-se gostar ou não do Governo, mas a prisão de suspeitos de terrorismo é correta: o terrorismo é uma ameaça real, como se viu agora em Munique, e o Brasil, como sede dos Jogos Olímpicos, é um alvo previsível. Já bastam os problemas enfrentados pelo país, inclusive o crime organizado. Não pode haver espaço para a ação de assassinos de fora, quaisquer que sejam os motivos alegados. Temer mostra que é possível ser bem educado, afável, respeitador das mais diversas tendências, desde que pacíficas, e agir com dureza, dentro da lei, sempre que o rigor se fizer necessário. Religião não pode ser desculpa para a prática de crimes.
A hora de calar
A ameaça de terrorismo também não pode servir de desculpa para falar bobagem. O governador do Rio, Francisco Dornelles, disse que aqui haverá “a melhor e mais segura Olimpíada do mundo”. Seria tão bom ter calado!
Fim de linha
Pesquisa mostra que o prefeito paulistano Fernando Haddad não ganha nem entre seus partidários petistas. Claro: eles o conhecem