A fantasia da mulher honrada ficará em farrapos se os senadores fizerem meia dúzia de perguntas certas
Forçada a responder de improviso, Dilma vai gaguejar mentiras com frases sem pé nem cabeça
Dilma Rousseff vai aparecer no Senado fantasiada de ilha de honestidade ameaçada de afogamento por um oceano de conspiradores golpistas. A vastíssima conjura mobiliza tucanos ressentidos com a derrota em 2014, machos inconformados com a ascensão de uma fêmea ao cume do poder, empresários que levam a mão ao coldre quando veem ex-pobres embarcando no avião, barões da imprensa insones com a erradicação da miséria, juízes treinados pela CIA para facilitar o assalto ao pré-sal, traidores que se disfarçavam de ministros e outras ramificações da colossal direita golpista.
Cumpre ao grupo de senadores sem medo fazer o que fariam jornalistas independentes caso Dilma superasse o pavor que lhe causa a ideia de enfrentar uma entrevista coletiva de verdade. A fantasia da mulher honrada ficará em frangalhos se confrontada com meia dúzia de perguntas que obriguem a depoente a tratar de assuntos dos quais sempre fugiu. Por exemplo: que tal esclarecer se no time das brasileiras honestas onde vive se incluindo também joga Erenice Guerra? Ela mesma: a melhor amiga da presidente que também era chefe de quadrilha e acaba voltar ao noticiário político-policial a bordo de bandalheiras descobertas pela Lava Jato.
A lista de perguntas constrangedoras é interminável. Se despreza delatores, por que tentou incluir no julgamento do impeachment a delação de Sérgio Machado, o gatuno que manteve no comando da Transpetro? O que tem a dizer sobre as revelações de Delcídio do Amaral, líder do seu governo no Senado? Como pôde uma presidente fantasiada de faxineira fingir que nunca soube que a diretoria da Petrobras era infestada de corruptos? Por que mandou o Bessias entregar a Lula aquele habeas corpus preventivo disfarçado de termo de posse? Há mais, muito mais. Mas estes exemplos bastam.
Forçada a responder de improviso, Dilma vai contar mentiras com frases sem pé nem cabeça. Depois de cada tapeação, o autor da pergunta precisa registrar que a depoente não disse coisa com coisa, informar que ninguém entendeu o que disse e exigir que a depoente repita em língua de gente o besteirol gaguejado em dilmês castiço. Ela merece.
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