Fortaleça o jornalismo: Assine a partir de R$5,99

Augusto Nunes

Por Coluna Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Com palavras e imagens, esta página tenta apressar a chegada do futuro que o Brasil espera deitado em berço esplêndido. E lembrar aos sem-memória o que não pode ser esquecido. Este conteúdo é exclusivo para assinantes.
Continua após publicidade

A justiça em perigo

A verdadeira ameaça à democracia é a eliminação dos sistemas de combate à corrupção hoje em funcionamento

Por J.R. Guzzo
Atualizado em 30 jul 2020, 20h23 - Publicado em 15 jul 2018, 07h10
  • Seguir materia Seguindo materia
  • J.R. Guzzo (publicado na edição impressa de VEJA)

    O espetáculo de depravação exibido há pouco por um desembargador do Tribunal Regional Federal de Porto Alegre, com a cumplicidade de três deputados federais do PT e com a ideia de “soltar” da cadeia o ex-presidente Lula, teve pelo menos uma vantagem: foi uma lição perfeita de como seria, na prática, a Justiça brasileira num governo de Lula, seu partido e os demais agrupamentos que se apresentam como de esquerda neste país. Foi uma coisa prodigiosa na sua estupidez ─ não chegou a durar duas horas, de tão miserável a qualidade da armação posta em prática, e desceu a um nível de safadeza tão grosseira que, aparentemente, nem mesmo o advogado-chefe de Lula, Cristiano Zanin, sempre disposto ao pior, aceitou se meter na história. Mas deixou claros os planos que Lula tem para o Poder Judiciário no Brasil, caso um dia volte a mandar. No seu entendimento, o sistema de Justiça deve ser uma repartição pública cuja única função é declarar como “legal” tudo o que o governo manda fazer; seus juízes, procuradores e demais funcionários devem ser gente “do partido”, com a obrigação permanente de receber e obedecer ordens. A lei não é o que está escrito. Não é hoje a mesma que foi ontem ou será amanhã. Não é igual para todos. A lei, por esta visão do mundo, é apenas o que Lula, o PT e os seus sócios querem que ela seja.

    Muito se adverte, no momento, sobre os perigos que a democracia brasileira está correndo neste momento de paixão eleitoral extremada, com propostas radicais, promessas explosivas e candidatos que inquietam as almas moderadas. Mas a verdadeira ameaça à democracia, hoje, é esse esforço contínuo pela subversão do Judiciário, comandado pelas forças que precisam eliminar os sistemas de combate à corrupção hoje em funcionamento. Ou derrotam a resistência à roubalheira, simbolizada e centralizada na Operação Lava Jato, no juiz Sergio Moro e numa porção decisiva do TRF-4, ou não sobrevivem politicamente. Não há futuro nenhum para Lula, condenado como ladrão a doze anos de prisão em duas instâncias, nem para o imenso aparelho criminoso que opera a vida pública brasileira de alto a baixo, se uma parte da Justiça continuar com poderes reais para punir quem rouba. A guerra para destruir o Judiciário e eliminar a segurança jurídica já está sendo travada há bom tempo. Seu principal campo de batalha, no fundo, é o Supremo Tribunal Federal, onde se concentra o grosso dos esforços para matar a Lava Jato, soltar Lula da cadeia e armar sua volta à Presidência da República. Só assim, acreditam seus generais, será possível pacificar o ambiente político no Brasil e liberar as quadrilhas partidárias para que possam voltar às suas atividades habituais de extorsão, desfrute e roubo do erário público.

    Os inimigos de um sistema de Justiça livre, íntegro e profissional têm tido vitórias e derrotas em sua caminhada. Contam com um grupo ativo de servidores no STF ─ recentemente ganharam ali, por exemplo, a libertação do ex-deputado José Dirceu, condenado a mais de 30 anos de prisão. Neste episódio demente da “soltura de Lula”, em que o desembargador Rogério Favreto achou que pelo fato de estar num plantão de domingo poderia anular a sentença do tribunal do qual faz parte, a tropa da corrupção perdeu. Tudo saiu errado. O desembargador é um militante público do PT, nomeado para seu cargo no TRF-4 por Dilma Rousseff sem nunca ter sido juiz de coisa nenhuma ─ faz parte desta pérola da vigarice nacional chamada “quinto”, deformação que dá ao governo o direito de nomear como bem entende 20% de todos os desembargadores brasileiros. Qualquer idiota pode ser nomeado; basta que tenha um diploma de advogado de uma faculdade qualquer de subúrbio e, naturalmente, que seja amigo de quem o nomeou.

    Continua após a publicidade

    A trapaça que tentou aplicar espanta por sua cretinice. Três deputados da área mais desordeira do PT ─ um deles chegou a propor publicamente o fechamento do STF ─ combinaram com Favreto a apresentação de um pedido de habeas corpus em favor de Lula, em regime de emergência, aproveitando que ele estaria de plantão no domingo. De imediato, o desembargador veio com um calhamaço com mais de 30 páginas em que tomava a extraordinária decisão de derrubar a sentença ─ até agora não reformada, e portanto absolutamente legal ─ de um colegiado de três desembargadores do próprio TRF, e mandava que o juiz Moro e a Polícia Federal soltassem Lula “imediatamente”. Por que? Os deputados petistas e seu desembargador disseram que havia um “fato novo” ─ Lula quer ser candidato a presidente da República e não pode fazer campanha se continuar preso. Como assim? Quer dizer que qualquer brasileiro, entre os mais de 700.00 atualmente na prisão, tem direito de ser solto para se candidatar a presidente? É muito louco. Naturalmente, essa ordem não deu em nada, porque não podia ser cumprida. Como disse Moro na resposta à intimação: soltar o condenado seria desrespeitar a ordem do próprio TRF-4 que mandou prendê-lo e que está em pleno vigor. Logo em seguida, a autoridade competente do tribunal mandou que a “soltura” fosse ignorada. Fim do golpe.

    Chama a atenção, no episódio todo, como um plano tão idiota pode ir adiante. Ninguém, pelo jeito, disse em nenhum momento que aquilo era uma alucinação ─ ao contrário, chegaram a organizar comemorações antecipadas da “libertação”. O fato é que a tentativa foi realmente executada ─ e isso mostra o quanto Lula e seu sistema de apoio estão dispostos a fazer para virar a mesa. O que poderia ser mais claro? O golpe do plantão de domingo revela, com a clareza possível, que é isso que eles entendem por justiça. É essa a única justiça que lhes interessa; é a que vão fazer se chegarem lá. Afinal, se um dia chegarem, por que raios começariam a fazer o contrário do que estão fazendo agora? A justiça do “Lula Livre” é a justiça da Venezuela ─ acaba-se com tudo e monta-se no lugar um Supremo com 11 Favretos. Tem sido essa, exatamente, a atuação do PT e da esquerda à sua volta desde que começaram os processos de corrupção contra Lula: um vale-tudo para fraudar, enganar, corromper e desprezar a ideia de justiça. Em nenhum momento mostraram o menor interesse em se defender das acusações com base na lei, na razão e nas provas. Desde o primeiro dia, todo o esforço foi espalhar que o ex-presidente era a vítima de um “processo político” destinado a impedir que ele voltasse à presidência do país e pudesse executar de novo as suas “políticas sociais’. Transformaram o STF num picadeiro de circo, e criaram a situação absurda de monopolizar em benefício de um único cidadão a maioria das atividades do principal tribunal do país. Entraram com mais de 70 recursos de todo o tipo, grande parte deles chicana em estado puro para paralisar, interromper e tumultuar os processos. Há mais de ano trabalham o tempo todo para criar um estado permanente de baderna, com o objetivo de jogar a população contra a Justiça brasileira. Vão continuar assim. Não enxergam outra saída.

    Publicidade
    Publicidade

    Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

    Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

    Black Friday

    A melhor notícia da Black Friday

    BLACK
    FRIDAY

    MELHOR
    OFERTA

    Digital Completo
    Digital Completo

    Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

    a partir de 5,99/mês*

    ou
    BLACK
    FRIDAY
    Impressa + Digital
    Impressa + Digital

    Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (menos de R$10 por revista)

    a partir de 39,96/mês

    ou

    *Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
    *Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

    PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
    Fechar

    Não vá embora sem ler essa matéria!
    Assista um anúncio e leia grátis
    CLIQUE AQUI.