O comentário do Homem Americano (15:02 de 5/11) serviu de inspiração para mais um ótimo texto do jornalista Celso Arnaldo Araújo. Acabou sobrando para Dilma Rousseff. Não percam:
Tal diálogo entre Jânio e Montoro no debate da TV Record, que o senhor reconstitui confiando em sua memória, já foi reproduzido nesta coluna, na seção Baú de Presidentes, mais de uma vez, no vídeo original.
E é este, literalmente:
Montoro – Eu gostaria que o presidente refutasse esta afirmação de Clemente Mariani ou negasse a afirmação de Clemente Mariani
Jânio – Eu não posso refutá-la nem negá-la. Onde se encontra escrita essa informação?
– Está aqui o livro
– Muito bem
– Está aqui o livro. Página 304. Depoimento…
– O livro, de quem é?
– Depoimento de Carlos Lacerda…
– Ah, sei. Está dispensado da citação.
– Não, mas é…
– Está dispensado da citação…
– O fato ele cita…
– … porque o senhor acaba de querer citar as escrituras valendo-se de Asmodeus ou de Satanás. Não quero ouvi-la.
Na sequência, que não está no vídeo, Jânio define Lacerda como “inimigo figadal meu e do povo brasileiro”. Mas ficou por aí.
Não o culpo, Homem Americano, pela transcrição infiel. Jânio era irreproduzível de memória – para transcrever sua fala no papel, e fiz isso inúmeras vezes após entrevistas com ele, era obrigatório ouvir a fita, e ouvi-la de novo, reproduzindo-a com absoluta fidelidade.
Nunca havia uma pausa, uma elipse, um conceito fora do lugar onde deveriam estar. Transcrita desse modo, a fala transformava-se num texto escrito, sem necessidade de reparo ou adaptação. A boutade sobre Asmodeus e Satanás é exemplo de sua genialidade. Nenhum político brasileiro seria capaz de um repente desses.
Dilma é absolutamente o inverso de Jânio: o que ela fala não se escreve. Transcrevendo qualquer fala de Dilma numa redação da prova do ENEM, um candidato seria sumariamente desclassificado pelos examinadores, mesmo que acertasse todas as questões de múltipla escolha.