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CELSO ARNALDO: Dilma ensina que médico bom apalpa até coração e revela as prioridades do programa de importação de jalecos: ‘É onde tem mais gente e onde quem mais precisa tem primeiro’

CELSO ARNALDO ARAÚJO De todos os temas nacionais sobre os quais a presidenta discorre como quem acaba de sair de coma profundo ou de longa temporada de isolamento total e completa afasia num fiorde norueguês, a saúde, possivelmente, é o de sintaxe mais doentia. Em 33 meses de governo, ao falar do assunto, ela nunca […]

Por Augusto Nunes Atualizado em 31 jul 2020, 05h15 - Publicado em 3 out 2013, 22h31

CELSO ARNALDO ARAÚJO

De todos os temas nacionais sobre os quais a presidenta discorre como quem acaba de sair de coma profundo ou de longa temporada de isolamento total e completa afasia num fiorde norueguês, a saúde, possivelmente, é o de sintaxe mais doentia. Em 33 meses de governo, ao falar do assunto, ela nunca demonstrou saber distinguir uma gaze de uma traqueostomia, enquanto tentava comparar o SUS com a saúde pública sueca ou com a saúde particular da cúpula do governo, a do Sírio-Libanês.

Uma de suas maiores dificuldades, no campo da saúde, tem sido falar do antigo e valoroso Samu, o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência ─ nome que, até ela assumir a Presidência, provavelmente evocava-lhe uma das estrelas aquáticas do SeaWorld.

Num de seus primeiros discursos examinando o sistema de saúde pública que dá gosto de ficar doente, ela resumiu a importância da sigla:
“Nós temos o Samu. Porque o Samu tem desempenhado no Brasil um papel fundamental, que é juntá toda a rede e olhá onde que tem disponibilidade e onde que a criança, ou o adulto, no caso, deve ser levado”

Ou seja: o Samu é um serviço de ambulância que leva o paciente para um hospital onde possa ser atendido.

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Nesses 33 meses, com o palavrório em estado terminal e piorando a cada dia, ela construiu, com recursos próprios, o maior sanatório do mundo para raciocínios patológicos.

Mas se os pronto-socorros e hospitais do SUS não têm vaga sequer para um vaga-lume de asinha quebrada, o manicômio da Presidência incorporou, nas últimas semanas, dezenas de casos de falência múltipla de palavras. Com a aproximação das eleições, o ministro da Saúde convertido em candidato ao governo de São Paulo e o problemático programa Mais Médicos ainda prometendo alta a um sistema que agoniza por aparelhos, Dilma desandou a falar de saúde em qualquer oportunidade. Aonde quer que vá, após o discurso tem entrevista a rádios locais, onde o tema é abordado com mais “profundidade”.

Esta semana, os oráculos de tanta sabedoria foram as rádios Nordeste Evangélica AM e 96 FM, do Rio Grande do Norte. E uma única resposta de cerca de três minutos, fragmentada a seguir, equivale a um laudo de morte encefálica.

A repórter questiona a presidente: além de mais médicos, existem planos de equipar as unidades de saúde do interior de estado, que é o que mais interessa aos entrevistadores, com um mínimo de infraestrutura? A Dra. Dilma faz um prognóstico que dá ainda mais gosto de ficar doente:

“Existe, sim, Tereza, existe. Nós estamos investindo tanto na reforma como na ampliação de postos de saúde, como também na construção de novos. A melhoria dos existentes é fundamental. Se você tem uma estrutura dada, uma infraestrutura dada, você tem… antes de você pensar que você vai ampliar, você tem de melhorar e ampliar essa estrutura”.

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Ou seja: mesmo o que é já ótimo pode ser melhorado.

O doente abriu os olhos, resfolegou, mas não sentiu firmeza e voltou a requerer cuidados. Mas a Dra. Dilma insiste no tratamento incipiente de choque:

“Essa é uma questão fundamental para nós: primeiro você melhora e amplia, e paralelamente, você constrói novos, mas tem de manter o que você tem”.

Ok, Dra, mas como estão os sinais vitais do paciente?

“Ao mesmo tempo, nós estamos construindo 17 UPAs… construindo, não, desculpa, tem hoje aqui 17 UPAs. Dessas 17 UPAs, que são importantes, 4 existem, 2 em Mossoró, uma em Natal e uma em Macaíba, e 13 estão sendo construídas, e serão cada vez mais… e isso permitirá melhorar cada vez mais o ensino”.

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UPA lá, lá ─ melhorar o ensino? Mudando de assunto, por onde anda o Samu? Nas palavras encorajadoras da Dra. Dilma, já foi convocado, para “juntá toda a rede e olhá”:

“Para você ter UPAs, é importante que você tenha o Samu. Por que é? Porque o Samu, ele leva as pessoas para onde tem disponibilidade de leitos no tratamento de uma emergência, e depois, se é mais grave, ele transporta para o hospital”.

O Samu da Dra. Dilma faz mais piruetas que a quase homônima criatura do SeaWorld. Primeiro, a ambulância leva os doentes para um estranho lugar ─ onde se tratam emergências em leitos hospitalares, embora não seja um hospital. Se a emergência for grave ─ e no Brasil de Dilma até as emergências são saudáveis ─ aí o Samu vai bater à porta de um hospital de verdade, pressupondo que miragens de branco existam em todos os municípios brasileiros.

Não ficou claro? Ninguém explica Dilma melhor que a Dra. Dilma, que, em sua tese de doutoramento, defendeu a ideia de que pronto atendimento e emergência médica são a mesma coisa:

“Porque a cadeia é assim: primeiro, o posto de saúde, onde você faz o atendimento preventivo, o básico, mede a pressão, vê como é que está a situação do diabetes, controla o remédio etc. Depois você tem um serviço de emergência e de urgência que é a UPA, que é uma Unidade de Pronto Atendimento, que você pode tratar uma emergência assim: a pessoa teve um início de um infarto, você pode começar a tratar na UPA. Agora… e aí ela só vai para hospital quando é caso, de fato, de internamento duradouro”.

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Ok, Dra., mas o Samu fica na porta da UPA esperando o paciente saber se é um princípio de infarto ou um infarto duradouro? A resposta é tão clara quanto o azul de metileno:

“Então, o Samu, essas ambulâncias, elas são essenciais, elas que te permitem levar de um lugar para outro”

Há três meses, o governo anunciou que resolveria a grita dos brasileiros por mais médicos com….Mais Médicos. Desde então, Dilma costuma explicar esse que é o mais mal planejado programa de saúde da história do mundo com um silogismo inverso: o Mais Médicos foi criado porque o brasileiro precisa de… mais médicos. Mas um médico é um médico ─ é bom não se esquecer disso:

“Olha, as pessoas se queixam de duas coisas: de ter um atendimento que ela vai ter de agendar e que vai demorar muito porque não tem um médico lá no posto de saúde, e querem também uma outra coisa: que esse atendimento seja humano, não é, gente, essa questão da humanidade no trato com a pessoa”.

Um exemplo, Dra. Dilma?

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“Uma das pessoas, inclusive, me disse: ‘o médico não me toca’. Ela queria que o médico lá tocasse… porque aquilo que a gente… pelo menos meu médico sempre me apalpou, olhou coração, olhou garganta, essas coisas todas. Bom, mas o médico, então, é um elemento essencial desse processo. Aliás, cá entre nós, serviços… você começa olhando serviço, você pensa quem é que faz o serviço? É a pessoa. Então, o médico é um elemento fundamental”.

Confirmado: um médico é um médico. E é também uma pessoa. E esse médico de Dilma é ainda mais humano: não palpa, apalpa. E, tal como um poeta do estetoscópio, olha o coração.

Com uma defesa tão candente e articulada do programa, bem que a Dra. Dilma Rousseff poderia criar um slogan vencedor para o Mais Médicos ─ algo com a mesma força tautológica do “Brasil rico é país sem pobreza”.

Pois nesses três espantosos minutos em que a já combalida saúde pública brasileira agora infectada pelo dilmês foi levada às pressas para um imaginário leito de UTI, o novo slogan surgiu com naturalidade. Foi no momento em que a Dra. Dilma diagnosticou, para a jornalista, as prioridades do programa:

“O Mais Médicos é onde tem mais gente e onde quem mais precisa tem primeiro”.

Clique aqui para ouvir a entrevista concedida por Dilma Rousseff.

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