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Como nascem os slogans?

Vieram do Inglês e seu significado original, que hoje persiste no étimo de palavras semelhantes em várias línguas, é este: grito de guerra

Por Deonísio da Silva
Atualizado em 4 jun 2024, 17h02 - Publicado em 3 jun 2018, 11h27

Deonísio da Silva

O governo Michel Temer está infiltrado de quinta-colunas? Como pode um experimentado beduíno aprovar o slogan “o Brasil voltou, 20 anos em 2”? Assim não se vende nada, “batrício”. Nem ideias.

A palavra slogan veio do Inglês, que a trouxera da expressão dos celtas slaugh, guerra, e gheun, grito. Seu significado original, que hoje persiste no étimo de palavras semelhantes em várias línguas, é este: grito de guerra.

É muito importante um grito de guerra. Os comandantes, sejam militares, eclesiásticos ou civis, não desconhecem esta verdade.

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O presidente norte-americano John Kennedy criou um programa de ajuda à América Latina denominado Aliança para o Progresso. Ou Alianza para el Progreso, em espanhol, fazendo dele seu grito de guerra, ou o grito de guerra de seu governo.

O nome surgiu-lhe do título de um jornal do Texas que leu num ônibus. Um de seus assessores sugeriu-lhe que o programa deveria chamar-se Alianza para el Desarollo, mas o presidente, de origem irlandesa, tinha dificuldade de pronunciar desarollo, que em português significa desenvolvimento, e preferiu progresso, equivalente ao inglês progress.

A viagem das palavras raramente é sem escalas. O presidente dos EUA, quando concebeu o famoso programa de ajuda, percorria o país de ônibus. Presidente e ônibus são palavras que vieram do latim.

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Presidente veio do Latim praesidente, declinação de praesidens, aquele que preside, dirige. No Império Romano, o título praesidens era dado aos governadores de suas províncias.

Durante muito tempo, também os governadores de Estados brasileiros, então designados províncias, foram chamados presidentes. O vocábulo atende a muitas outras funções atinentes a comandos, como, por exemplo, os presidentes de tribunais, câmaras, assembleias e outras instituições, públicas ou privadas.

Nesta viagem das palavras, chegamos a ônibus, do Latim omnibus, para todos. Inicialmente, foi nome de uma casa comercial, de propriedade de um francês chamado Omnes.

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Ele mandou afixar uma placa com os dizeres Omnes omnibus. Seu estabelecimento passou a ser muito frequentado. Então, o dono de um serviço de transporte para banhistas também escreveu a palavra omnibus num de seus carros. Foi um sucesso.

Quando, nos anos 60, John Kennedy viu num ônibus o jornal que lhe inspirou o célebre programa, os ônibus percorriam Londres e Nova York desde 1829. A princípio não foram aceitos, mas já na segunda metade do século 19 eram os mais populares meios de transporte, devido à criação de lugares para trabalhadores e demais pessoas humildes.

Mas como foi que jardineira virou sinônimo de ônibus? Pois jardineira veio de jardim, do Francês jardin, que designa jardim, mas também horta, pomar, quintal. Tanto que os franceses criaram a expressão cultiver son jardin (cultivar seu jardim) para referir estilo de vida de quem se retirou da balbúrdia da cidade para levar uma existência menos agitada.

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Porém, os franceses que não cultivavam o jardin apenas por entretenimento, mas com o fim de produzir flores, legumes, verduras e tubérculos, precisavam vender todos esses produtos nas cidades. E os transportavam até os mercados urbanos em veículo de duas ou quatro rodas denominado jardinière.

Quando a jardinière, em vez de transportar o que os agricultores tinham colhido, levava as pessoas às cidades, conservou a denominação. Na Itália, virou giardineira. E na Espanha, jardinera. Imigrantes espanhóis e italianos enriqueceram nossa língua com a variante jardineira.

No carnaval de 1938, embora as jardineiras já fizessem as vezes dos ônibus, a homenageada era outra: “Ó jardineira,/ por que estás tão triste?/ Mas o que foi que te aconteceu?/ Foi a camélia,/ que caiu do galho,/ deu dois suspiros/ E depois morreu?”.

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Sem errar concordância nenhuma, os versos continuavam: “Vem, jardineira,/ Vem, meu amor,/ Não fiques triste,/ Que este mundo/ É todo teu,/ Tu és muito mais bonita/ Que a camélia que morreu?”.

É que, neste caso, a palavra jardineira foi tomada em sua primeira acepção: mulher que faz serviços de jardinagem, seja por ofício, seja por lazer, descanso, recreio ou, como preferem tantos, por hobby, que quer dizer a mesma coisa, mas é de origem controversa.

O Inglês hobby teria origem na expressão hobbyhorse, brincar com um tipo de cavalo pequeno, o pônei, do Francês poney, e este do Latim pullus, filhote de qualquer animal, não apenas do cavalo, como a palavra cachorro, do Latim cattulus, filhote de muitos animais, mas no Brasil aplicada exclusivamente como sinônimo de cão.

Provavelmente, dizem etimólogos espanhóis, hobby nasceu de Robin, nome pelo qual foi conhecido um menino da Bretanha que brincava muito com um pônei. E hobby veio a designar outras atividades de lazer, não apenas a de brincar com pôneis.

Se a equipe de comunicação do governo Temer não está infiltrada de quinta-colunas, então o pessoal errou feio. Como aconselha o poeta Carlos Drummond de Andrade: Chega mais perto e contempla as palavras./ Cada uma tem mil faces secretas sob a face neutra/ e te pergunta, sem interesse pela resposta,/ pobre ou terrível, que lhe deres:/ Trouxeste a chave?”.

*Deonísio da Silva
Diretor do Instituto da Palavra & Professor
Titular Visitante da Universidade Estácio de Sá
https://portal.estacio.br/instituto-da-palavra

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