BRANCA NUNES
Sobrinho do deputado federal Zeca do PT, ex-governador de Mato Grosso do Sul, Marcelo Heitor Miranda dos Santos decidiu revelar ao país o que pensa das manifestações que, em 15 de março, levaram às ruas mais de 2 milhões de brasileiros. Óculos escuros de piloto do próprio jatinho, camisa pólo cor de rosa, sotaque de quem morou no Rio em vidas passadas, o filho do prefeito de Porto Murtinho (MS) usou o celular para filmar-se a bordo do seu carrão esporte com teto solar: “Bom dia Campo Grande, Capital Morena! Bom dia Brasil!”, capricha no sorriso cínico que sublinha a saudação inicial. “Deu não, né? Dilminha tá lá, né? Como é que faz? Muito bom, é delicioso ganhar da direitinha. São quatro anos saboreando a vitória, o desespero, o mimimi, o chororô eterno, tipo aquela criancinha mimada que perde o doce, sabe?”
Sempre alternando risadinhas e fungadas, o piloto doidão pisa no acelerador: “Não deu, né? Mas valeu a caminhada, perdeu um pouquinho de caloria, tipo caminhada da saúde, né?”, desdenha. “Mas olha, não cansa não. Vamos continuar fazendo manifestaçõezinhas dessas daí política, né? Não tem essa de apolítica, né? Manifestação política de quem não votou na Dilma, está com dorzinha de cotovelo, doído pela derrota, mas Lulinha vem aí em 2018 e aí é ferro de novo e mais quatro anos de chororô e mimimi. Mas que é bom é, é muito bom ganhar de vocês. Um beijinho, gente, até a próxima, tchau!”
Aos 33 anos, torcedor do Botafogo carioca e apreciador de duplas sertanejas, Marcelo Heitor percebeu tarde demais que se tornara protagonista de um sucesso de público devastado pelo fracasso de crítica. Assustado com o tsunami de insultos, provocações e deboches de grosso calibre, tentou refugiar-se num boletim de ocorrência por “injúria”. O pai, Heitor Miranda dos Santos, correu em socorro do filhão com a alegação de que não houve maldade alguma no vídeo. “Eu já vi montagens muito piores contra a presidenta Dilma e nada foi comentado”, garantiu ao site Campo Grande News. “Há dois pesos e duas medidas, de um lado pode-se tudo em nome da liberdade de expressão, mas do lado de cá, quando alguém se manifesta, recebe essa avalanche de críticas”.
Não foi a primeira vez que Marcelo apareceu numa delegacia. Primo do deputado federal Vander Loubet, um dos 49 políticos denunciados na Operação Lava Jato por envolvimento no escândalo do Petrolão, ele responde a um processo por improbidade administrativa na 1ª Vara de Direitos Difusos, Coletivos e Individuais Homogêneos de Campo Grande. Coerentemente, protagoniza o caso de polícia em companhia de parentes.
Segundo o jornal Correio do Estado, Marcelo, Loubet, seu tio Ozório Miranda dos Santos e o pai prefeito são acusados de irregularidades na concessão do terminal portuário de Porto Murtinho. Na ação civil pública, o Ministério Público Estadual acusa a família Miranda dos Santos de ferir o princípio da impessoalidade na concessão para exploração do terminal já que, na época, o Estado era governado por Zeca do PT e Loubet comandava a secretaria de Infraestrutura.
Já que esbanja confiança na popularidade de Dilma, de Lula e do PT, Marcelo deveria retribuir “o chororô e o mimimi” da “direitinha” com a aceitação da proposta apresentada por uma moradora de Porto Murtinho, reproduzida no vídeo abaixo. Depois de relatar alguns desmandos do pai e denunciar o estado degradante de escolas e prédios públicos, a conterrânea faz a exortação ao filho do prefeito: “Vem pra rua!”.
A coluna espera que Marcelo tope o convite. E lhe deseja boa sorte.