O grau de desenvolvimento tecnológico e a pujança econômica do agronegócio brasileiro podem ser medidos, entre outros indicadores, pelo número de bocas que nossa agricultura e agropecuária alimentam: além dos 214 milhões de brasileiros, um sexto da população mundial – 1,3 bilhão de pessoas – consome todos os dias alimentos produzidos no País.
No ano passado, o agronegócio cresceu 13% em relação ao ano anterior, de acordo com os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A expansão do agro foi decisiva para o suado crescimento de 1% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2017. Estima-se que a safra 2017-2018, embora menor do que a supersafra 2016-2017, reforçará ainda mais a presença do agronegócio na composição do PIB deste ano.
O fantástico resultado do campo seria outro não fossem os avanços tecnológicos que permitiram ganhos de produtividade e adaptação dos produtores às diferentes condições de solo e clima no Brasil. Grande parte desses avanços resultou de pesquisas científicas desenvolvidas há 45 anos pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), além dos investimentos em inovação feitos pelo setor privado e por universidades. A Embrapa foi fundada em 1973 com os objetivos de reduzir o preço dos alimentos no País e tornar nossos produtos competitivos no mercado externo.
O longo histórico de bons serviços prestados ao agro até aqui pela Embrapa, no entanto, está sob risco de não ser repetido no futuro dada a desorientação estratégica e administrativa que hoje marca a gestão da empresa. A bem da verdade, o padrão de excelência da estatal foi severamente atacado durante os governos do PT, que aparelhou a estatal a fim de torná-la mais uma empresa a serviço dos desígnios político-ideológicos do sr. Lula da Silva, e não do interesse nacional.
Recentemente, veio a público um plano de mudança da estrutura organizacional da Embrapa. No lugar das atuais Unidades Descentralizadas (UDs) – 42 centros de pesquisa especializada espalhados por todo o País – pretende-se criar cinco superintendências e “centros de inovação”. De fato, uma estatal com cerca de 10 mil funcionários e orçamento anual de R$ 3,5 bilhões deve sempre zelar pela eficiente administração destes recursos humanos e financeiros.
Uma diligente avaliação poderia dizer se todas as UDs entregam ao País aquilo que delas se espera ou se estamos diante de mais um caso de ineficiência e desperdício de recursos públicos. Cada UD emprega, em média, cerca de 45 pesquisadores e algo entre 200 e 250 funcionários. Não é absurdo inferir que algumas dessas UDs tenham sido criadas para acomodar interesses políticos regionais, sem produzir resultados científicos relevantes que justifiquem suas existências.
Mas o fato de haver distorções como aquelas, que não só podem, como devem ser enfrentadas por uma administração genuinamente preocupada em resgatar a Embrapa do limbo em que se encontra, não significa corroborar um plano que pretende ignorar as particularidades de cada UD e, de uma só tacada, acabar com a atual organização da Embrapa.
A proposta de mudança, tal como foi formulada, restringe-se à superfície, trocando nomes e criando novas estruturas sem prévia avaliação do que já funciona bem hoje. Regionaliza a empresa em cinco superintendências sem dar a devida importância às particularidades de cada região e de cada produto.
Mais importante, a proposta não leva em consideração uma profunda reflexão conceitual sobre a finalidade da Embrapa para o País; e, a partir desta avaliação, então formular a melhor estrutura para dar conta dos desafios estratégicos da estatal para os próximos anos, tendo-se sempre o interesse nacional como norte.
Há quem pretenda transformar a Embrapa em uma espécie de “universidade” quando, na verdade, sua vocação funcional – e histórica – é a pesquisa científica aplicada ao campo. Em breve, a direção da estatal deverá ser renovada. É bom para o País que, sob nova administração, a Embrapa volte a seus propósitos originais.