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Editorial do Estadão: Sintomas de desespero

Nos últimos dias vieram à luz duas delações premiadas que envolvem Dilma diretamente em atos de corrupção

Por Branca Nunes Atualizado em 30 jul 2020, 22h34 - Publicado em 4 jun 2016, 22h21

A teimosia, a arrogância, a prepotência, a incapacidade de se expressar com clareza e, sobretudo, a monumental incompetência política são atributos pessoais que Dilma Rousseff jamais conseguiu dissimular. Mas, pelo menos até recentemente, a presidente da República afastada conseguia cultivar com algum sucesso certa aura de probidade, de honestidade no trato da coisa pública. Pensou reforçar essa imagem insistindo na irrelevante alegação de que nunca possuiu conta no exterior.

A imagem dessa figura moralmente imaculada começa a ruir com revelações de que seu comportamento na vida pública não difere daquele de figuras que estão envolvidas até o pescoço nas investigações da Operação Lava Jato e congêneres. Para quem acompanhou a trajetória política e administrativa da presidente afastada, isso não chega a surpreender.

Nos últimos dias vieram à luz duas delações premiadas que envolvem Dilma diretamente em atos de corrupção. Nestor Cerveró afirma que “Dilma Rousseff tinha todas as informações sobre a Refinaria de Pasadena”, cuja compra em condições suspeitas causou prejuízo de cerca de U$ 800 milhões à Petrobrás. Segundo o ex-diretor da estatal já condenado por corrupção, a presidente afastada “acompanhava de perto os assuntos referentes à Petrobrás”. Garante ainda o depoente que Dilma “sabia que políticos do PT recebiam propina oriunda da Petrobrás”.

Em outra delação, esta revelada pela revista Época, o empresário Benedito Oliveira Neto, conhecido como Bené, afirma que em 2014 e 2015 o Palácio do Planalto desviou, para pagamento à agência de publicidade Pepper, cerca de R$ 45 milhões relativos à campanha presidencial de 2010. Essa negociação teria sido intermediada por um assessor da então presidente, Giles Azevedo. Bené está preso em decorrência das investigações da Operação Acrônimo, que apura irregularidades cometidas em 2014 na campanha eleitoral do governador mineiro Fernando Pimentel.

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Muitos outros fatos apontam para a possibilidade – para dizer o mínimo – de Dilma Rousseff, por ação ou omissão, estar envolvida em episódios suspeitos. É o caso de sua relação estreita com seu ex-marqueteiro João Santana, que manipulava os recursos das campanhas presidenciais de 2010 e 2014 e está encrencado na Lava Jato, acusado de receber propina da Odebrecht e de lavagem internacional de dinheiro.

Dilma Rousseff esteve por mais de cinco anos à frente de um dos governos mais corruptos que, comprovadamente, este país já teve. No período, quando foram aperfeiçoadas as práticas experimentadas no mensalão, a corrupção foi elevada à condição de método político pelo PT. No início de seu primeiro mandato, Dilma até tentou fazer uma “faxina” no primeiro escalão do governo, demitindo quase uma dezena de ministros. Menos de um ano depois ela já tinha aderido ao “pragmatismo” de seu mestre Lula e se tornado cúmplice das maracutaias petistas. Com esse histórico, fica difícil aceitar que Dilma seja “uma presidenta honesta”, como diz seu esforçado advogado de defesa. Afinal, há formas de desonestidade diferentes de embolsar dinheiro alheio.

A desonestidade intelectual é uma delas. É compreensível que Dilma esteja disposta a “lutar até o fim” na defesa de seu mandato. Mas, quando apresenta como única e verdadeira razão para seu impeachment a tentativa de seus inimigos de “acabar com a Lava Jato”, a presidente afastada se outorga um diploma de falsa esperteza que pessoas visceralmente honestas recusariam. É evidente que muitos dos políticos que compõem hoje o governo provisório de Michel Temer têm o rabo preso na Lava Jato. Afinal, eles fizeram parte do governo Dilma – e até do governo Lula. Mas quem também tem grande interesse em “acabar” com as investigações de corrupção são Lula e a tigrada do PT, que forçaram Dilma a afastar da Justiça o então ministro José Eduardo Cardozo, acusado de ser “frouxo” no controle de uma Polícia Federal a ele “subordinada”. Cometer a imprudência de subestimar o discernimento dos brasileiros é sintoma de descontrolado desespero.

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