Free Lula, fake Lula
Já tem um palco lindo pra você brilhar e uma imprensa meiga pra te dar todas as manchetes como jornalista investigativo
Guilherme Fiúza (publicado na Forbes Brasil)
Conversa entre arapongas do bem:
E aí, já falou lá no Supremo?
— Sim, a Lula ser inocente e vai estar solta amanhã.
— Que bom. E na Câmara? Tudo certo?
— Eu só ter dúvida se amigas da PT ir botar tapete vermelha pra eu.
— Não exagera. Já tem um palco lindo pra você brilhar e uma imprensa meiga pra te dar todas as manchetes como jornalista investigativo. Se melhorar, estraga.
— Você pensar pequena. Eu querer poder e grana, mas querer prêmia também.
— Vamos focar: o que você vai falar na Câmara?
— Que a Moro ser chefe do Lava Jato e que isso desmascarar esse operação contra a Lula.
— Deixa só eu te passar uma informação que a gente interceptou aqui: tá saindo um acordo de leniência com devolução de mais de 800 milhões de reais roubados da Petrobras…
— Essa problema não ser minha…
— Claro que não. Mas é coisa da Lava Jato, podem querer te perguntar sobre isso.
— Elas não vai perguntar de isso.
— Como você sabe?
— Darling, nós só lidar com duas grupos de gente: as comparsas e as otárias. As duas só ir repetir até morte minha mantra: Lavo Jata ser armação de Mora pra fuck Lula.
— Gênio. Mas só pra te alertar que dessa vez a Lava Jato conseguiu que os sócios da gangue do Lula indenizem também o governo dos Estados Unidos…
— Minha país ser fascista e estar nas mãos de uma fascista que gosta da Moro porque ser fascista também.
— Incrível, você tem tudo mesmo na ponta da língua.
— Jornalista investigativa ter que saber muita.
— Não te preocupa o STF dar defeito?
— Que defeita?
— Desistir de botar em votação a tal liberdade provisória do Lula.
— Ser ruim, hein?
— Sei não. Uma coisa é tu combinar uma gambiarra dessas no escurinho, outra coisa é botar o carão ali no plenário da suprema corte e mandar uma barbaridade dessas sem cair na gargalhada.
— Elas não ir cair no gargalhada. Elas ser triste, igual nós. Todas que vive fingimento ser pessoa que não é e lutar luta de mentira não rir nunca.
— Pô, também não precisava ser tão sincero… Que baixo astral.
— É isso que eu te falar a tempo toda: ser sincera é uma baixo astral. Melhor ser triste mentindo que ser muito triste falando verdade.
— Agora você falou tudo. Seu português até saiu legal… Aliás, tava pra te perguntar: tanto tempo por aqui, por que você continua falando português como se tivesse chegado ontem?
— Não ter tempo, muito sabotagem pra inventar. E linguagem do fake news ser universal, não precisar aprender esse língua chato.
— Tá certo. Lula também nunca aprendeu. Lula livre!
— Não precisar dessa gritinha ridícula, só ter nós duas aqui.
— Ah, é. Foi mal.