ATUALIZADO ÀS 11H35
Também fisicamente o deputado André Vargas é um atentado ao decoro, constatou em 4 de fevereiro um post inspirado na performance do vice-presidente da Câmara na sessão de abertura do ano legislativo. As provas estavam na foto publicada pela Folha. Entre os numerosos detalhes que compõem uma fachada obscena, causaram especial impressão os cabelos que reivindicam aos berros a renovação da tintura, a papada de glutão de nascença e o meio sorriso de Mona Lisa de bordel. Uma figura dessas, registrou a última linha do texto, nem precisa de carteirinha de sócio para entrar sem bater em qualquer clube dos cafajestes.
O post foi brando demais, alertou nesta terça-feira a reportagem da Folha sobre as ligações promíscuas entre o n° 2 da Casa dos Horrores e o doleiro Alberto Youssef, n° 1 na relação de delinquentes montada pela Operação Lava Jato, concebida para apurar um superlativo esquema de lavagem de dinheiro. As descobertas da Polícia Federal já bastaram para instalar numa cela de cadeia, além de Youssef, o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa, um dos articuladores da desastrosa e suspeitíssima aquisição da refinaria de Pasadena. Ainda não se sabe exatamente o que fez o companheiro André Vargas. Mas a entrada em cena reiterou que o caçula do elenco é bastante promissor.
O deputado paranaense regressou ao noticiário político-policial a bordo do jatinho que emprestou de Youssef para viajar entre Londrina e João Pessoa, na Paraíba. O favor foi negociado em 2 de janeiro, numa troca de mensagens em poder da Polícia Federal. “Tudo certo para amanhã, boa viagem e boas férias”, informou Youssef num recado pelo celular. Surpreendido pela Folha, Vargas não forjou a tempo um álibi menos bisonho. Disse que optou pelo jatinho “porque os voos comerciais estavam muito caros no período”. Admitiu que conhece o doleiro há 20 anos, mas só agora descobriu quem é Alberto Youssef.
“Não sei se o avião é dele, ele foi dono de hangar e eu perguntei se ele conhecia alguém com avião”, improvisou em mau português. “Eu não sabia com quem eu estava me relacionando. Eu não tenho nenhuma relação com os crimes que ele eventualmente cometeu”. Ou Vargas está mentindo ou é tão prestativo que abre as portas do poder até para desconhecidos necessitados. Numa das conversas, por exemplo, ele aparece no papel de despachante de doleiro, encarregado de facilitar as coisas para uma certa Labogen, empresa fantasma usada por Youssef para remeter ilegalmente ao exterior mais de 37 milhões de dólares.
O diálogo merece ser transcrito sem correções:
Vargas: Reunião com o Gadelha foi boa demais. (Segundo a Polícia Federal, o deputado se refere a Carlos Gadelha, secretário de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos do Ministério da Saúde).
Youssef: Que bom. (…) Parabéns. (…) Gostou do que viu?
Vargas: Sim, mas da conversa com Gadha (Carlos Gadelha) ele garantiu que vai nos ajudar.
Youssef: Já estamos prontos para Anvisa.
Vargas: Muito bom.
Confrontado com a conversa comprometedora, o vice-presidente da Câmara enredou-se no palavrório dos pilhados em flagrante. Declarou que Youssef o procurou “para saber como funcionavam parcerias com ministérios”. Que o doleiro amigo e um grupo de investidores “estavam tentando recuperar uma petroquímica”. Que se lembra de um encontro no aeroporto com um representante de Youssef. Que não consegue recordar o nome desse representante. Que o misterioso mensageiro lhe contou que teria tido “uma boa reunião com Gadelha”.
Melhor interromper o falatório e pedir a algum mensaleiro o número do celular de um advogado especializado em inocentar pecadores. O que disse de improviso só serviu para evocar as imagens do revolucionário com algumas arrobas a mais, ao lado do presidente do Supremo Tribunal Federal, erguendo o braço esquerdo para exibir o punho cerrado. Depois desta terça-feira, o Brasil decente desconfia que André Vargas estava ensaiando o gesto que poderá repetir para os fotógrafos na entrada do presídio da Papuda.