O presidente Lula resolveu aproveitar a Copa da África do Sul para um giro de despedida pelo continente. Lá vem lambança, avisa o histórico das 20 viagens que permitiram ao Primeiro Passageiro baixar em 16 países. Na primeira, em novembro de 2003, espantou-se ao descobrir que a capital da Namíbia não é parecida com nada do que viu nos filmes do Tarzan. Na mais recente, em junho passado, compareceu a um encontro de ditadores na Líbia, promoveu a “amigo e irmão” o terrorista em recesso Muammar Khadafi e cumprimentou os liberticidas presentes pela boa saúde da democracia que assassinaram.
“Estou muito surpreso, porque quem chega a Windhoek não parece que está num país africano”, alegrou-se ao estrear na Namíbia. “Acho que poucas cidades do mundo são tão limpas e bonitas arquitetonicamente quanto esta cidade. E poucas têm um povo tão extraordinário como Windhoek tem”. Convidado a mudar de rota pela palidez da comitiva, voltou ao ponto de partida. “A visão que se faz da América do Sul é que nós somos todos índios pobres”, comunicou aos anfitriões.
Encarregado da tradução para o inglês, o diplomata Sérgio Ferreira transformou “índios pobres” em “beautiful people”. Até Lula sabe que biutiful pípol quer dizer “pessoas bonitas”. Não gostou do sumiço dos índios pobres e cobrou explicações do tradutor. Ferreira jurou que não ouvira direito, pediu desculpas e o cortejo seguiu seu curso. Os passeios seguintes comprovaram que, quando o cara aparece na África, gafes e trapalhadas desembarcam junto com a bagagem.
Por ter comunicado ao marido que tinha feito a opção preferencial pela Europa, Marisa Letícia não embarcou no Aerolula em outubro de 2007. Perdeu a mais animada das expedições. Em Gana, Lula vestiu um traje típico que lhe garantiria nota 10 tanto em luxo quanto em originalidade se aparecesse num dos antigos concursos carnavalescos do Hotel Glória. “Vocês estão pensando que sou rei?”, perguntou o chefe aos chefiados. Ouviu o silêncio que consente. Na fala do trono, celebrou o crescimento dos negócios fechados entre brasileiros e africanos, consideravelmente reduzidos entre 2003 e 2008.
No Senegal, em nome do Brasil, pediu perdão aos companheiros africanos “pela mancha da escravidão”. Perdão para os outros, esclareceu a ressalva: “Não tenho nenhuma responsabilidade pelo que aconteceu nos séculos 16, 17 e 18″. Só poderia ter tido se descobrisse que, numa vida passada, foi capitão de navio negreiro.