Nesta sexta-feira, enquanto o medo de acordar com batidas na porta às seis da manhã impedia muita gente de dormir em Brasília, a epidemia de insônia ampliou-se em Cuiabá com a prisão do chefe da Casa Militar do estado, decretada pelo desembargador Orlando Perri. O coronel Evandro Lesco entrou na mira de uma ação que apura a utilização de grampos ilegais na gestão do governador Pedro Taques.
A acusação, formulada pelos promotores de Justiça Mauro Zaque e Fábio Galindo, ganhou repercussão nacional em 11 de maio deste ano, quando uma reportagem do programa Fantástico, da Rede Globo, divulgou detalhes do episódio. Segundo a denúncia, uma investigação sobre tráfico de drogas em Cáceres, município do interior do estado, foi o pretexto invocado para a implantação de um esquema conhecido como “barriga de aluguel”, expressão usada quando números de aparelhos pertencentes a pessoas sem ligações com o foco da apuração são incluídos na escuta telefônica.
Entre os telefones grampeados, por exemplo, estavam o da deputada estadual Janaína Riva (PMDB), uma das mais ativas opositoras de Taques, e do jornalista José Marcondes “Muvuca”, também adversário do governo. Como mostra a reportagem de Maria Angélica Oliveira publicada no site O LIVRE, na época em que o caso invadiu o noticiário jornalístico foi descoberta uma nota fiscal, no valor de pouco mais de R$ 20 mil, em nome do coronel Lesco. A nota se referia a equipamentos usados para a montagem de grampos e o armazenamento de escutas. Oficialmente, fora um negócio pessoal feito pelo militar. Mas o endereço que aparece no documento é o do Comando da Polícia Militar de Mato Grosso.
Lesco esteve reunido com Taques nesta sexta, mas se recusou a comentar o caso. Ele e mais quatro militares foram presos no fim da tarde desta sexta. Logo depois de revelado pelo site o pedido de prisão, o governador anunciou o afastamento de Jorge Luiz de Magalhães, comandante-geral da Polícia Militar de Mato Grosso.