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Augusto Nunes

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“Os delírios da carne” e outras sete notas de Carlos Brickmann

Diante dos governos que temos, a qualidade dos alimentos que consumimos e exportamos é até boa demais

Por Augusto Nunes Atualizado em 4 jun 2024, 18h27 - Publicado em 22 mar 2017, 14h22
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  • Publicado na coluna de Carlos Brickmann

    O problema não é a carne. O problema não é o tamanho das malfeitorias, nem o prejuízo às exportações. O problema é o Governo; o Governo que politiza a fiscalização de alimentos, que deveria ser estritamente técnica, rígida, intolerante, preocupada com a saúde da população, absolutamente desconhecedora das conveniências de partidos.

    Boa parte do Ministério da Agricultura está loteada, aparelhada para servir a interesses partidários. Nos Estados onde houve mais problemas com a Operação Carne Fraca, o PMDB (ala Temer) e o PP, do ministro Ricardo Barros, comandam a Superintendência do Ministério da Agricultura do Paraná. Em Goiás, o poder é exercido pelo PTB, na pessoa do deputado Jovair Arantes. Quem cuida da qualidade da carne?

    Quem cuida da qualidade da carne são os próprios produtores e exportadores, que sabem o custo da negligência na redução das vendas internacionais. Já Temer oferece churrasco a representantes dos países exportadores – e mantém a mesma política de loteamento do Governo que levou à questão da carne, sem notar que é esse o seu problema. Narra o bem informado Radar on-line que Temer sinalizou à bancada do PMDB mineiro na Câmara que lhe dará a próxima vaga no Ministério. Diante dos governos que temos, a qualidade dos alimentos que consumimos e  exportamos é até boa demais.

    Os dados da briga

    As principais críticas à Operação Carne Fraca envolvem números. Foram dois anos de investigações e mais de mil policiais federais para autuar 21 dos 4.837 frigoríficos nacionais, dos quais foi preciso interditar três,  responsáveis por menos de 2% da produção brasileira de carnes; dos 11.300 funcionários do Ministério da Agricultura, 33 foram afastados. E os 21 frigoríficos colocados sob fiscalização especial exportaram, em 2016, US$ 120 milhões. No total, 0,89% das exportações brasileiros de carne.

    Os fatos da vida

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    Mas o fato é que havia politicagem, que houve servidores que facilitaram aos infratores o que não deveriam facilitar, que foram encontradas coisas erradas – talvez não as que, no calor da notícia, levaram fontes e jornalistas a divulgar que vitamina C dava câncer. Pode ter havido exagero, mas tinha coisa errada. O estrago está feito. Como assinalou o jornalista gaúcho Fernando Albrecht, “o povo sempre acredita na acusação, mas nunca na defesa”. E com motivos.

    Quem paga a conta

    Imaginemos que haja apenas um bife estragado em toda a imensa produção nacional. Uma porcentagem desprezível, sem dúvida. Mas, para quem comeu esse bife e passou mal, de que adianta saber que todo o restante da carne produzida no país estava em excelentes condições? E os importadores, por via das dúvidas, por que comprarão do Brasil e não da Argentina, do Uruguai ou da Austrália?A propósito, uma bela explicação em perguntas e respostas sobre a Operação Carne Fraca e os problemas causados por carne em más condições está neste link.

    A grande definição

    O príncipe Otto von Bismarck, principal responsável pela unificação da Alemanha, em 1871, criou uma frase definitiva: “Quanto menos soubermos como são feitas as leis e as salsichas, melhor dormiremos à noite”.

    A transposição…

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    O presidente Michel Temer inaugurou festivamente a transposição das águas do rio São Francisco. O ex-presidente Lula, dias depois, também a inaugurou, mais festivamente ainda. Há alguns probleminhas, claro: as águas do rio só chegarão às casas e fazendas afastadas de suas margens depois de colocados os encanamentos (e só haverá tranquilidade para o consumidor depois de instaladas, também, as estações de tratamento).

    …de que, mesmo?

    E há um problemão: moradores das margens do rio original se queixam da redução do volume das águas, puxadas pelas bombas para o curso estendido. Algum tempo atrás, o político baiano Antônio Carlos Magalhães disse a este jornalista que não valia a pena transpor as águas do São Francisco sem antes recuperar a saúde do rio. “O São Francisco está doente”, disse ACM. Em boa parte de sua extensão, e nas margens de quase todos os seus afluentes, a mata ciliar tinha sido derrubada. Com isso, os rios recebiam menos água e, assoreados,com as margens desprotegidas, nem teriam capacidade de receber mais. Já na época, as águas do São Francisco lhe pareciam insuficientes até para abastecer sua bacia original.

    Festa precoce

    Lula diz que se for candidato é para ganhar. OK; mas como vencer a rejeição de 44% dos eleitores, que não aceitam votar nele de jeito nenhum?

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