Oferta Consumidor: 4 revistas pelo preço de uma

Augusto Nunes

Por Coluna Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Com palavras e imagens, esta página tenta apressar a chegada do futuro que o Brasil espera deitado em berço esplêndido. E lembrar aos sem-memória o que não pode ser esquecido. Este conteúdo é exclusivo para assinantes.
Continua após publicidade

Outras vidas paralelas

"Inês é morta" também para o Presidente. A eleição já passou, ele é o novo Presidente. Todavia parece ainda muito preocupado com os vencidos

Por Deonísio da Silva
Atualizado em 4 jun 2024, 15h13 - Publicado em 28 jul 2019, 11h21
  • Seguir materia Seguindo materia
  • Deonísio da Silva

    O presidente Jair Bolsonaro “não é nenhum santo”, como não o era o rei Dom Pedro, o Cru e Justiceiro, entre outros epítetos, mas por que comparar mandatários tão distantes um do outro, embora lusófonos, à moda das Vidas Paralelas, obra de Plutarco que compara célebres personalidades da Roma e da Grécia antigas? Para recomendar uma terceira leitura, bem curtinha e preciosa, de um autor português falecido há apenas quatro anos, lida e trabalhada em escolas de qualidade.

    Aqueles que deram indulgências plenárias a diversos políticos, pegos em tempos recentes com a boca na botija, são os mesmos que tratam com extraordinário rigor o atual Presidente, assim como são mais delicados ao falar de bandidos e mais rudes quando comentam o comportamento esperado ou mesmo deslizes de autoridades que os combatem. Ora, uns já foram condenados. Outros nem réus são ainda!

    O presidente Bolsonaro parece empenhado em dar razão a quem o marca tão duramente, pois na semana passada incorreu de novo em “emenda pior do que o soneto” — outra frase famosa para evitar explicações — nos tropeços sobre a palavra “paraíba”, utilizada popularmente no Rio para designar o migrante nordestino, equivalente a “baiano” em São Paulo. A uns e outros o Brasil inteiro deve muito!

    Diz o brocardo que “temos duas orelhas e uma boca para ouvir o dobro e falar a metade”. Depois de proferidas as inconveniências,  “Inês é morta” e “se não tem remédio, remediado está”.

    Continua após a publicidade

    Há vários políticos brasileiros conhecidos por seus destemperos, sobretudo verbais, mas o atual Presidente lembra o soberano português que mandou retirar do túmulo o cadáver da amada, “aquela que depois de morta foi rainha”, para a cerimônia do beija-mão, de vila em vila.

    Ora, “Inês é morta” também para o Presidente. A eleição já passou, ele é o novo Presidente. Todavia parece ainda muito preocupado com os vencidos e de resto talvez dê atenção exagerada a assuntos que deveriam estar “mortos e enterrados”, como diz outra expressão da rica fraseologia do português para designar coisas sobre as quais nada se pode fazer.

    Seu humor, por vezes cruel e desjeitoso, lembra o conto Teorema, do escritor português Herberto Hélder, mais conhecido como poeta, falecido em 2015, aos 84 anos.

    Continua após a publicidade

    Em trecho do conto, quando da execução dos carrascos de sua amada, o soberano ordena: “Preparem-me esse Coelho, que tenho fome”. “O rei brinca com o meu nome”, diz um dos “brutos matadores” de Inês, “aquela que depois de morta foi rainha”, amante do soberano justiceiro, executada por ordens do sogro. O narrador da história é o supliciado, de quem arrancam o coração pelas costas e o servem ao rei numa bandeja de prata.

    Eram três os algozes, os três conseguiram escapar, mas dois foram extraditados de Castela, o reino vizinho, e foram executados em praça pública lotada.

    Tomado de vingança, em ato horroroso, presidido pelo soberano, foram mortos Pêro Coelho e Álvaro Gonçalves, que teve o coração retirado pelo peito. Como se misturaram lenda, história e literatura, consta que o carrasco tentou demover o rei do modus operandi proposto, gestos sanguinolentos por serem de quase impossível execução. Mas foram mortos como o rei ordenou.

    Continua após a publicidade

    Diogo Lopes Pacheco, o terceiro algoz, continuava na França, que não o extraditara, e foi perdoado por Sua Alteza, já então no leito régio de morte. Ou talvez o indulto seja lenda e o perdão tenha sido dado por seu sucessor.

    O carrasco viveu até aos 88 anos. O rei cruel, filho do rei benigno, morreu aos 47. Uma curiosidade adicional: Dom Pedro, o Cru, era neto de Santa Isabel de Aragão, esposa de Dom Dinis, o primeiro rei de Portugal.

    Nem sempre o Bem vence o Mal, inicialmente. É por isso que é indispensável ser persistente nas boas ações, não nas más. Ou, para terminar a crônica, mais uma frase emblemática: “fazer o bem sem olhar a quem”. E quanto aos poderosos do dia, o conselho de Luís de Camões, que tratou de Inês de Castro em Os Lusíadas: “Queria perdoar-lhe o Rei benigno,/ Movido das palavras que o magoam;/ Mas o pertinaz povo, e seu destino/ Que desta sorte o quis, lhe não perdoam”. Logo no episódio seguinte, Camões dirá do sucessor de Dom Pedro, o Cru: “um fraco Rei faz fraca a forte gente”.

    *Deonísio da Silva
    Diretor do Instituto da Palavra & Professor
    Titular Visitante da Universidade Estácio de Sá
    https://portal.estacio.br/instituto-da-palavra

    Publicidade

    Publicidade

    Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

    Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

    SEMANA DO CONSUMIDOR

    10 grandes marcas em uma única assinatura digital

    Digital Completo

    Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*
    Apenas R$ 5,99/mês*
    ECONOMIZE ATÉ 47% OFF

    Revista em Casa + Digital Completo

    Nas bancas, 1 revista custa R$ 29,90.
    Aqui, você leva 4 revistas pelo preço de uma!
    a partir de R$ 29,90/mês

    *Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
    *Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a R$ 5,99/mês.

    PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
    Fechar

    Não vá embora sem ler essa matéria!
    Assista um anúncio e leia grátis
    CLIQUE AQUI.