Um dos criadores do Plano Real e ministro da Fazenda do governo Fernando Henrique Cardoso, o economista Pedro Malan afirma que no Brasil até o passado é imprevisível. Pode-se deduzir que, num país assim, pesquisas eleitorais precoces são tão confiáveis e precisas quanto previsões extraídas de uma bola de cristal, de um jogo de búzios ou da consulta a alguma cartomante.
Como as lojinhas de porcentagens não podem parar, segue a cachoeira de cifras sobre as eleições de 2018. Embora até pesquisas de boca-de-urna venham tropeçando em erros superlativos, incontáveis brasileiros insistem em levar a sério a selva de índices despejados por magos da estatística que sempre se esquecem de combinar com as urnas.
Na primeira página da edição desta segunda-feira, a Folha de S.Paulo destacou uma das descobertas do levantamento eleitoral mais recente: Russomanno lidera disputa em São Paulo, segundo Datafolha. Desconfiei que já tinha lido aquilo numa edição mais antiga. E tinha mesmo. A única diferença é que, agora, o deputado Celso Russomanno estaria puxando a fila dos candidatos ao governo estadual, não à prefeitura de São Paulo.
Em 2012 e 2016, o mesmo instituto transformou o mesmo concorrente no prefeito eleito da capital até a véspera da votação. As urnas avisaram que a pesquisa apostara num cavalo paraguaio. Em agosto de 2016, por exemplo, a primeira página da Folha deu a disputa por decidida: Russomanno lidera pesquisa Datafolha com 31% e vence com folga no 2° turno. Não houve uma segunda rodada. Terceiro colocado em agosto, João Doria liquidou a questão no 1° turno.
De que adianta saber, hoje, que determinado candidato liderou a corrida até o momento em que foi ultrapassado pelo concorrente condenado à derrota pelo Datafolha dois meses antes? “Pesquisa é um retrato do momento”, recitam os donos dos armazéns de algarismos. Pelo retrospecto, retratos do momento são tão interessantes quanto fotografias de alguém que não sabemos quem é — e que jamais será identificado.