Guilherme Fiúza (publicado na Forbes Brasil)
Conversa entre dois jornalistas investigativos de último tipo:
— E o Deltan, hein?
— Caiu bonito!
— Lava Jato já era.
— A gente é bom.
— Jornalismo é missão, meu caro.
— Missão cumprida!
— Como assim?
— Ué, não era pra ferrar os menudos do Moro?
— Era, mas não é pra falar isso.
— Porra, só tem a gente aqui.
— Tá, mas se amanhã alguém me compra eu posso te detonar…
— O que?!
— Não… “Compra” que eu digo é se alguém me encanta com uma verdade superior.
— Ah, tá. Tipo o Lula fez com a gente.
— É… Tipo isso.
— Cara, mas Lula só tem um!
— Você que pensa.
— Ah, dane-se. Prefiro me concentrar na missão jornalística. Se mudarem a missão, eu mudo o jornalismo. Aí fica tudo igual.
— Perfeito. Acho que você entendeu o Einstein.
— Ele não era tão relativo assim. Mas confesso que estudei muito.
— Seu professor de física era aquele gente boa do PSOL?
— Não lembro se era física, mas PSOL com certeza.
— É, não dá pra lembrar tudo.
— Se esses caras da Lava Jato tivessem tido a formação democrática que a gente teve não tavam aí tentando censurar os outros.
— Muito menos censurar um preso político como o Lula, perseguido injustamente no lugar de um amigo dele.
— De um, não. De vários. O do triplex, o do sítio, o da cobertura em São Bernardo, o do terreno do Instituto Amigo do Lula, o de Angola, o da Medida Provisória, o da sonda, o da…
— Resume aí, cara. O Lula tem um milhão de amigos. Ponto.
— Imagina: um milhão de amigos querendo ouvir uma entrevista sua de dentro da cadeia e esses fascistas da Lava Jato tentando te censurar…
— Pois é. Pros que tão presos também até nem faz tanta diferença, mas os que tão soltos precisam saber o que fazer com a grana…
— Não, mas esse lance de decidir se é pra investir em pneu velho, em mortadela, em juiz, em jornalista… isso os advogados repassam.
— Tudo bem, mas não é a mesma coisa. É angustiante ficar sem ouvir aquela voz.
— O fato é que a Lava Jato perdeu e a entrevista foi linda!
— Impressionante a pureza do Lula quando não tem nenhum fascista pra atrapalhar.
— Eu acho que vi a auréola dele.
— Aquilo é efeito.
— De quem? Da Polícia Federal?
— Claro que não. Quando a alma é muito honesta ela projeta uma luz que só jornalista investigativo como a gente enxerga.
— Ah, tá. Mas então dá no mesmo.
— É, dá no mesmo.
— Qualquer coisa se não ficar legal a gente edita.
— Pronto.
— Missão é missão.
— Se mudar, me avisa.
— Te aviso. Ou te detono, o que for melhor pra mim.
— Aprendo muito com o seu pragmatismo.
— Em primeiro lugar a lealdade.
— Ah, tanto faz. Depois a gente edita isso.
— Ok.