Em 1994, um grupo de economistas mobilizados por Fernando Henrique Cardoso, então ministro da Fazenda, salvou o Brasil do naufrágio econômico com a gestação do Plano Real. O conjunto de medidas excepcionalmente inventivas também garantiu a surra imposta a Lula por FHC já no primeiro turno da eleição presidencial — e, com isso, poupou o país da antecipação em quatro anos da chegada do PT ao governo federal.
Nesta quinta-feira, quatro integrantes daquele grupo ─ Gustavo Franco, Elena Landau, Edmar Bacha e Luiz Roberto Cunha ─ prescreveram numa carta endereçada ao senador Tasso Jereissatti, presidente interino do PSDB, uma receita concebida para salvar o partido da morte desonrosa. Para tanto, os tucanos precisariam aprovar na convenção nacional que ocorrerá neste agosto, e colocá-las urgentemente em prática, três propostas formuladas na carta.
“Reafirmando seu apoio à equipe econômica e mantendo-se à frente das reformas no Legislativo”, ressalvam os signatários, o PSDB deveria “(1) renovar sua direção; (2) entregar os ministérios que têm no governo; e (3) refundar-se programática e eticamente”. Só a segunda recomendação não precisa ser traduzida para a linguagem das ruas. A primeira quer dizer que o PSDB tem de livrar-se definitivamente do senador e presidente licenciado Aécio Neves (e dos demais dirigentes atropelados pela Operação Lava Jato).
A terceira proposta constata, valendo-se do jargão acadêmico, que a sigla dos tucanos deve tomar vergonha na cara e parar de agir como se fosse um PMDB com erro de revisão. Para que os dois ajuntamentos disfarçados de partido político se transformem numa geleia só, basta que uma convenção conjunta decida qual das letras vai identificar o bando: um S ou um M. Se quisessem ser ainda mais concisos, os autores da receita poderiam limitar-se à terceira proposta. A mera restauração da antiga taxa de pudor tornaria inevitável a sequência de providências saneadoras.
A fórmula é tão simples quanto eficaz. Ou os tucanos devolvem ao Brasil “o PSDB de Franco Montoro, José Richa e Mário Covas”, como resume a carta, ou logo estará sepultado, ao lado do PT, na mesma cova rasa onde jazem siglas que morrem de vigarice, ganância e cafajestagem.