Se a Constituição está morta, então tudo é permitido
As vossas excelências senadoras da chinelagem que tentaram impedir a votação da reforma trabalhista sabem mastigar de boca fechada e usar talheres ou o primitivismo não é só político? Talvez pensem que empoderaram (termo detestável) as trabalhadoras. Como trabalhadora e cidadã, prefiro a civilização, dispenso a truculência de gênero e repudio tais agressões à democracia. Mas por que as fiandeiras xexelentas de um destino arcaico para o país agiriam de outro modo? Se a Constituição é referência opcional para procuradores do MPF que, desrespeitando os limites institucionais de suas funções no estado de direito democrático, cometem textos na redessociolândia e na imprensa pertinentes apenas ao universo de analistas políticos; para o procurador-parcial da república que denuncia o presidente sem provas; para MPF/PGR que se valem de ilegalidades deixando os esleys impunes e mais ricos como terapêutica para a náusea súbita de Janot; e se todos que alertam que a desfiguração da lei cultiva o populismo e o autoritarismo (desgraças que se interseccionam) são acusados de defender bandidos, chamados de lacaios e outros “argumentos”, não há nenhuma razão para que PCdoB, PT e assemelhados mudem o modo de fazer oposição – truculento, desonesto e contrário aos interesses do país.
Toda lucidez é castigada
Desde a notícia da gravação ilegal da conversa imprópria entre Temer e Joesley, Alessandro Molon (Rede-RJ) integra espiritualmente a bancada do Jornal Nacional e Randolfe Rodrigues (Rede-AP) agora falar grosso e foi elevado, pelo Pravda Global expandido, a reserva moral da república em que a lucidez, mal se restabeleceu com o impeachment de Dilma Rousseff, é castigada até que só reste para governá-la aquele que triunfa quando a lucidez definha. Renascido pelas mãos de Janoesley, permitindo ao ex-presidente se lavar na sujeira alheia, Lula não precisa fazer muito: refestelado na antessala da desgraça do país, com um copo de single malt na mão e uma ideia fixa na cabeça, só aguarda que aliados, objetivos ou não, terminem as degolas. Receio que ele saberá explorar a condenação determinada pelo juiz Sérgio Moro e que pode recrudescer a campanha para derrubar Temer, pois as diretas têm de acontecer antes que o TRF da 4ª Região confirme a sentença e torne inelegível o caudilho. Lula ou quem ele quiser tem todas as chances de suceder Temer caso o presidente seja derrubado, tanto porque as forças derrotadas no impeachment permaneceram coesas como porque aquelas vencedoras se perderam numa insensatez convicta.
Almoço na calada do dia
Para depor Temer ilegalmente, Rodrigo Maia, domingo passado, almoçou na calada do dia na casa de Paulo Tonet, o vice-presidente de relações institucionais do Grupo Globo. Está certo: melhor receber diretamente de quem manda instruções para o desmantelamento do país. No seu oportunismo patético e de pateta, Maia talvez que o eventual acordo feito com as esquerdas e congêneres não inclui a cabeça dele. Comemoram essa aberração os que sabem e os que não sabem que derrubar Temer e fazer Maia o próximo a ser derrubado agrava a crise.
Constituição é para os fracos
O impeachment tem nos âmbitos político e jurídico suporte duplo. Portanto, é legítima a abordagem política de Sergio Zveiter (PMDB-RJ) no relatório contra Temer a ser apreciado pela Comissão de Constituição e Justiça da Câmara. Essa legitimidade não confere coerência ao relatório nem dispensa a observância a aspectos técnicos, determinando que a denúncia em que se baseia os forneça. A denúncia deve ser essencialmente jurídica, só assim será legítima. E o suporte se faz. Quem leu a denúncia de Janot constata o próprio afirmar a ausência de provas. Ora, para que provas se há bambu? Partindo de uma denúncia juridicamente inepta e politicamente motivada, Zveiter só poderia se valer da legitimidade política para um relatório consistente se este recomendasse o arquivamento da denúncia. Mas há o fator o bambu? Assim, o deputado perpetrou um relatório medíocre para, em 15 minutos claramente gozosos de fama, invocar a lei pela metade (falou da jurisprudência que aceita prova ilícita, omitindo que apenas para a defesa, não para acusação) e confirmar que todo poder emana do bambu e em nome dele será exercido.
Povo gosta de artista artístico
Paula Lavigne está num grupo de artistas pelo golpe contra Temer. A maioria deles não se mobilizou pela deposição legal de Dilma Rousseff cujo crime de responsabilidade, se não de fácil compreensão para a população em geral, era de uma clareza solar para grupo tão seleto. OK, ninguém é obrigado a marchar contra aquilo de que gosta ou se calar diante do que repudia. Ela declarou que “a gente tira o Temer e depois a gente vê”. Não sei quem é “a gente”, talvez aquela habitante de um mundo dourado da zona sul carioca ao Projac, com trabalho bacana, renda alta e que não vê 14 milhões de desempregados produzidos pelo regime petista sempre apoiado pela “gente”. Paula diz que a coisa é independente. Ou não: o site do movimento é ligado à Mídia Ninja que é ligada à CUT que é ligada ao PT que inventou Joesley que é ligado à Dilma e ao Lula que é ligado a ele mesmo de quem a maioria dos artistas é fã. Um dos problemas de ir às ruas pela saída de Temer é topar com “a gente” e sua independência estampada em bandeiras vermelhas, nos bonés do MST e na pança de uns sem-noção com camisetas apertadas do Che Guevara. O vídeo do grupo é um porre, as atrizes sem maquiagem revelam sinais perturbadores de preenchimento labial, as roupas são feias, a produção clean-pobre fake parece descuidada, as falas sonso-espertalhonas concentram o mal do país no governo atual. Se pretendia influenciar o impreciso ente chamado povo, sei não: essa coisa blasé-simplesinha atrai intelectual; o povo prefere ver os artistas de um jeito em que estes não tentem se parecer com ele; se parecer, resultará falso, frustrante e manipulador. No fundo, “a gente” fala mesmo para seu mundinho bacana e não vê o próprio público.
PSDB: se a delação de Janoesley vale para Temer, também vale para Aécio
Insistindo em sair da base do governo, os maricas do partido enfraquecem o que deveriam sustentar. É apenas o colapso da lógica dizer que defenderão as reformas do governo mesmo o abandonando porque, abandonado, o governo se enfraquece politicamente para conduzi-las. Justificar a bundamolice na delação de Joesley exige a expulsão de Aécio Neves do partido, pois o delator de Temer é o mesmo do senador. Ou, como Janoesley, o PSDB escolherá a narrativa que lhe convier?
Lá vem flecha
A aprovação da reforma trabalhista foi uma vitória do país e do governo, embora as manchetes do Pravda Global cassem o mérito de Temer tentando garantir o terror para que o bem não fique impune. Negam-lhe a vitória, mas, se a reforma não passasse, os headlines em caixa alta anunciariam a derrota do governo. O país não tem pão? Ora, que coma manchetes.
A mais bela imagem do ano
Leopoldo López, preso por se opor ao regime assassino do tosco Nicolás Maduro, foi solto no fim da semana passada depois de três anos e apareceu numa foto abraçado aos filhos pequenos: os encantadores Manuela Rafaela de 6 anos e Leopoldo Santiago de 4.