Venho sofrendo alguns reveses na vida simplesmente por exercitar a arte de discordar. Discordar é muito bom quando todo mundo concorda com a sua discordância. Já quando há controvérsias a coisa muda de figura. Peguemos, por exemplo, dois episódios da vida nacional recente, representados pelo senhor Demóstenes e pela senadora Kátia. Até hoje quero saber quem era o ghost writer dela. Ou como passou batido pelos jornalistas o verdadeiro caráter do paladino que só fazia os incautos de besta com seus trinados elegantes.
Minha introdução é pra discordar de um certo conjunto da obra que vê, por exemplo, correção na atitude do presidente do Senado ao tirar da cartola a tal lei que pune os excessos cometidos por autoridades, sem no entanto acomodar no mesmo texto a legalização dos jogos de azar. Resta evidente que faz um bom tempo que a “classe política” procura um jeitinho maroto de “esquentar” o dinheiro roubado ultimamente – via “craudefundes e afins” – para poder dele dispor nas próximas eleições.
É tão evidente que chega a ser enfadonho. Não custa lembrar que o juiz Sérgio Moro sabia da “suposta ilegalidade” – eu adoro essa expressão – da divulgação dos áudios que envolviam a tramoia Lula-Dilma, mas o fez assim mesmo, num ato de rara coragem, escancarando do que é feita a nossa república de bananas de procedência pra lá de duvidosa. Moro virou um herói nacional pela coragem – coragem que falta a boa parte da imprensa para traçar o quadro negro como ele efetivamente é.
É claro que concordo com a boa democracia. Concordo inclusive em discordar de Bolsonaro, mas defendo seu direito de dizer tantas abobrinhas quantas lhe cabem no saco. A patrulha do “politicamente correto” é coisa de um bando de idiotinhas úteis a serviço de uma causa que não para em pé. Tudo isso nós já sabemos. O que não sabemos – e fica difícil adivinhar – é o que querem nossos atuais mandatários, emitindo esses sinais estranhos que ora se alinham com a correção parlamentar, ora querem regulamentar a propina que vai abastecer os próximos caixas de campanha.
O discurso de “oposição meia boca” nós já entendemos perfeitamente. Ele serve como uma luva a cretinos que também se abasteceram de caixas dois e ideologias calhordas para uma sentada naquele plenário. Se gritar “pega ladrão”, não fica um, meu irmão. Justamente por isso que nas próximas eleições precisaremos de um mapa. Um aplicativo. Um folder ricamente ilustrado. Um template. Um infográfico. Qualquer coisa que nos mostre claramente quem é quem nessa selva amazônica de nossa política, onde todo mundo se disfarça de Rambo para tungar seu voto impunemente.
Nessa gente que aí está eu não voto nem amarrado, especialmente a mezzo esquerda, mezzo mozzarella. Eu quero que esses senhores se danem. Simples assim.