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Caçador de Mitos

Por Leandro Narloch Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Uma visão politicamente incorreta da história, ciência e economia
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O “capitalismo ultraliberal” é culpado pela miséria do país? Existe ultraliberalismo no Brasil?

Marcelo Coelho, colunista da Folha de S. Paulo, acredita que a "pouca regulamentação trabalhista" explica a má situação das empregadas domésticas

Por Leandro Narloch
Atualizado em 30 jul 2020, 21h46 - Publicado em 22 set 2016, 14h35
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  • Marcelo Coelho é um colunista elegante, que costuma publicar boas análises da vida brasileira. O artigo desta semana na Folha de S. Paulo começa bem – ele descreve relatos tristes de humilhações sofridas por empregadas domésticas. Como este:

    Eis o que conta L.A., que encontra sua patroa chorando. “Perguntei o porquê, por educação. A resposta foi que ela estava triste pois descobriu que sua filha estava a namorar um ‘mulatinho’ na faculdade de Medicina, e ela não queria netos negros. Ouvi calada pois necessitava trabalhar.”

    Mas, lá pelo final do texto, Marcelo Coelho estraga tudo. Diz que cenas assim ocorrem porque o Brasil não regulamentou suficientemente o trabalho assalariado como teriam feito os países desenvolvidos.

    Uau, que solavanco. Penso nos Estados Unidos, Canadá, Inglaterra, Cingapura, Coreia do Sul, China (que tirou 580 milhões de pessoas da miséria nos últimos 37 anos). Não há FGTS, lei geral de décimo-terceiro, férias ou aviso prévio. A Dinamarca sequer tem um salário mínimo unificado. Nenhum desses países tem uma justiça do trabalho. Para Marcelo Coelho, no entanto, nós é que regulamentamos pouco.

    Logo depois, Marcelo diz: “O capitalismo ultraliberal, com larga massa de miseráveis dispostos a tudo para ter um salário, também sempre se encarregou perfeitamente de pôr cada um ‘no seu devido lugar”.

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    Capitalismo ultraliberal, onde? No Brasil, como essa carga tributária, com esses privilégios aos amigos do rei, com essas leis trabalhistas inspiradas na Carta del Lavoro?

    Ultraliberais costumam criticar o “capitalismo de Estado” e defender o fim do monopólio estatal de emissão de moeda (a liberdade das pessoas usarem a moeda que preferirem). Também são favoráveis à substituição de todas (sim, todas) as leis econômicas por contratos privados. Algo remotamente próximo a isso ocorreu no Brasil?

    O texto de Marcelo terminaria perfeitamente se ele afirmasse que essa “larga massa de miseráveis dispostos a tudo para ter um salário” não só é humilhada diariamente. Também é prejudicada pela CLT, que diminui ainda mais as opções de trabalho. E também é obrigada a bancar um Estado que impede os pobres de empreender, distribui privilégios aos mais ricos e é responsável por pelo menos um terço da desigualdade do país.

    @lnarloch

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