Bolsonaro ganhou presente de Lula e soube usá-lo para furar a bolha
Ao faltar a debate, petista ofereceu ao adversário oportunidade de tentar furar a bolha
Quem esteve na noite de ontem nos estúdios do SBT viu um Jair Bolsonaro tranquilo, cercado de auxiliares sorridentes que não economizavam no discurso otimista. O candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, deixou o estúdio livre para o rival, ao se recusar a participar do debate organizado pelo pool de veículos de comunicação integrado por VEJA, ao lado de SBT, CNN Brasil, Terra, NovaBrasil e Estadão/Eldorado. Bolsonaro foi para a entrevista preparado para usar o espaço da melhor forma possível. E jogou com o claro objetivo furar a bolha e ganhar votos fora da sua zona de conforto.
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O presidente usou um tom sereno durante praticamente toda a entrevista, mesmo diante de perguntas desconfortáveis. Ensaiou se exaltar em algumas pouquíssimas ocasiões, mas logo retornava ao personagem cuidadosamente escolhido para a ocasião.
Nos bastidores, integrantes do QG bolsonarista consideraram o desempenho um absoluto sucesso. Disseram que Bolsonaro seguiu à risca o script. Um deles, em conversa com a coluna logo após a entrevista, elogiou a receita usada por Bolsonaro para neutralizar a polêmica sobre a desindexação do salário mínimo. Um problema, admitiu o auxiliar, criado dentro de casa e com potencial de fazer estrago.
Nesta semana, o jornal Folha de S. Paulo trouxe a notícia de que o ministro Paulo Guedes estuda apresentar uma Proposta de Emenda à Constituição para acabar com a vinculação do salário mínimo à inflação, como prevê atualmente a Constituição. Hoje, o reajuste é feito ano a ano, conforme a inflação real do ano anterior, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor. Segundo a reportagem, algumas opções – ainda sem martelo batido – estariam na mesa: usar a meta de inflação fixada pelo governo como critério ou adotar outro índice, mais vantajoso para os cofres públicos.
Questionado por esta colunista sobre o tema, Bolsonaro comprometeu-se a conceder um aumento real do salário mínimo no ano que vem. Mesmo não havendo previsão orçamentária, apoiou-se na promessa de taxar lucros e dividendos para bancar o reajuste. Mas o presidente não respondeu a parte da pergunta, sobre se iria se comprometer a não mexer no critério de reajuste atual da inflação. Bolsonaro saiu-se bem ao passar a bola para o Congresso. Investiu na tese de que não haveria aprovação parlamentar à mudança e repetiu que esta seria apenas mais uma fake news.
À coluna, um ministro de Bolsonaro disse que a campanha ainda irá avaliar se esse tom mais sereno de Bolsonaro será mantido até o fim deste segundo turno. Segundo ele, o presidente conseguiu desviar das tentativas da campanha petista de atingi-lo. “Eles estão buscando uma bala de prata”, afirmou. Segundo ele, o voto mais ideológico já está garantido. Agora, falta Bolsonaro encontrar uma receita para ganhar os indecisos que esperam dele medidas mais concretas para um eventual novo governo.
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