Debate sobre desoneração ampla tem cheiro de nova CPMF
Sem um imposto sobre transações financeiras ou outro mecanismo semelhante, ideia de reduzir impostos sobre todos os salários é uma conta que não fecha
O ministro da Economia, Paulo Guedes, esteve ontem com o deputado Jerônimo Goergen (PP-RS) para discutir a desoneração da folha de pagamentos em 17 setores da economia. Depois de muita pressão e muita dor de cabeça, o governo estendeu o benefício no ano passado, o que tranquilizou um universo de empresas que respondem por nada menos do que 6 milhões de empregos. Era uma medida necessária, com a qual o governo não tinha como brigar. Mas o benefício agora tem que passar por uma nova negociação para ser prorrogado.
Eis que o relator do projeto que trata do assunto sai do encontro repetindo exatamente as mesmas palavras que Paulo Guedes costumava dizer lá atrás, quando tentava usar a desoneração da folha para esses 17 setores para barganhar a recriação de uma nova CPMF. O relator nega que essa seja a intenção. Mas seja qual for a ideia que paira na cabeça do ministro da economia, o mecanismo não teria como ser muito diferente. Os dois falam em desoneração ampla, sem aumento de impostos. Para isso seria necessária uma ampla (e boa) reforma tributária, algo que o governo ainda tem muito longe no seu horizonte.
O fato é que o Brasil vai chegar ao fim do ano com um quadro de inflação em escalada, à beira da recessão, juros altos e às vésperas de uma eleição presidencial. Vários economistas ouvidos pela coluna entendem que dificilmente o governo Bolsonaro consegue escapar de um aumento de impostos. O que tenderia a acontecer, na avaliação desses especialistas, até o fim do ano. Afinal, ninguém quer falar em CPMF ou qualquer coisa minimamente parecida em ano de eleição.