Há décadas, o mundo busca a solução mágica que vai pôr fim à obesidade. Cada uma a seu turno, remédios como as anfetaminas, o Xenical e a sibutramina foram candidatos ao rótulo de pílula da magreza. As primeiras, aliás, acabaram proibidas no Brasil.
Há ainda os que, tendo tentado diferentes métodos de emagrecimento, exaustos do efeito sanfona e confiantes em uma resposta definitiva, acabaram seduzidos pela cirurgia bariátrica, comumente chamada de redução do estômago. Mas, agora sabemos, ela também não é a resposta rápida e definitiva que prometia ser. Não é raro escutarmos alguém contar de algum conhecido que, um tempo após a se submeter à cirurgia, “engordou tudo de novo”. Pois bem. Um estudo recente da Universidade de São Paulo quantificou essa impressão. Segundo a pesquisa, 92% dos operados ganham de volta 20% ou mais dos quilos perdidos, dois anos após o procedimento, quando deixam de ter o acompanhamento que o protocolo prescreve. As conclusões do estudo dão razão a algo que sempre digo. A mente também precisa ser ensinada a habitar um corpo magro.
É quando o ex-obeso pensa que já superou o problema do sobrepeso que as questões de fundo que o levaram àquele quadro ressurgem. Depressão e compulsão alimentar estão entre os fatores que jogam contra os pacientes em recuperação.
Alguns não lidam com esses problemas de maneira adequada e, diante do fato de não poderem comer muito com o estômago reduzido, passam a ingerir alimentos de alto teor energético. Pasta de avelã, chocolates em geral, manteiga de amendoim, ou mesmo bebidas alcoólicas se tornam um substituto para o prazer que antes encontravam no açúcar e na gordura.
Tudo isso me faz voltar à mais atual estrela do emagrecimento rápido, o Ozempic. Já falei neste espaço da febre em torno dele e de outros remédios que agem de maneira similar. Seu sucesso foi tal que a Novo Nordisk, farmacêutica que o fabrica, se tornou a maior empresa de capital aberto da Europa. Os ganhos chegaram a desequilibrar a economia da Dinamarca, país de origem do laboratório.
Outras substâncias estão sendo estudadas, com resultados impressionantes. Em paralelo, abordam-se efeitos colaterais das que já estão à venda. São aspectos que acendem um sinal de alerta, pois novas consequências podem surgir.
Há muito ainda por descobrir. Mas uma coisa já se sabe: as benesses duram somente enquanto essas medicações são ingeridas. Diferentemente da cirurgia bariátrica, o Ozempic, um medicamento de alto custo, não é coberto pelos planos de saúde como método de emagrecimento. É improvável que a maioria da população possa manter seu uso.
O sofrimento físico e moral imposto pelo sobrepeso é palpável. A obesidade é de fato muito impeditiva. Mas, do meu ponto de vista, continuo não acreditando em nenhuma solução milagrosa para perder peso.
A mudança de atitude que leva a emagrecer tem de ser plena. Se os quilos extras têm a ver com questões de comportamento – e isso é o mais frequente –, de nada adianta uma intervenção rápida e radical que fará o corpo secar de uma hora para a outra. Ervas milagrosas, operações, remédios de ponta…Nada disso emagrece a cabeça. E, se a cabeça não emagrece, o corpo não se mantém em forma.