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Copa e cozinha

Povos do mundo todo descontam a ansiedade dos jogos na comida

Por Lucilia Diniz Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 11h05 - Publicado em 9 dez 2022, 06h00

A Copa do Mundo nos oferece oportunidades de congraçamento planetário, entusiasmo e diversão — mas também de alívio. Poucas coisas fazem tão bem à alma quanto gritar gol. A hora em que a bola estufa a rede serve como um bálsamo para quem quer extravasar, liberando não só a tensão da partida, mas toda inquietude do ano que passou. Talvez até de um período maior de tempo. Não foram poucos os desafios enfrentados pela humanidade desde a última Copa. Basta lembrar que, em 2018, enquanto a bola rolava nos gramados da Rússia, ninguém cogitaria a possibilidade de ter de se trancafiar em casa por semanas a fio, e muito menos que aquele país anfitrião tão hospitaleiro se isolaria do mundo entrando em guerra. Cada grito de gol pode ser usado, portanto, para tirar pelo menos uma parte dessa carga de cima dos ombros. O problema é que também corremos o risco inverso: o de ficarmos um pouco mais pesados a cada partida. Literalmente.

A depender do tipo de jogo — e da falta de gols —, a ameaça de ganhar peso derrapando na alimentação pode ser grande. Os primeiros jogos da seleção brasileira no Catar não ajudaram. Sérvia e Suíça, pelo que pude perceber (estou longe de ser uma especialista), entraram em campo deixando os times aglomerados lá atrás, fazendo de tudo para impedir nossos jogadores de alcançarem o gol. E, no caso de Camarões, entramos com os reservas e sofremos uma derrota desconcertante. São partidas do tipo que mais gera ansiedade. Toda hora você pensa: “Agora vai!”. E não vai. No campo, os jogadores têm de ter muita paciência. Em casa, muita gente se comporta nessa hora como se estivesse numa festa em que falta assunto: atacando, repetidamente, a mesa de salgadinhos, a cumbuca de chips, a tábua de queijos. É a mais comum e humana das soluções — mastigar para aliviar a ansiedade.

“Se você considera um sacrifício trocar a empadinha pelo pedaço de aipo, saiba que esse é um desafio universal”

Em vez de ser oportunidade para liberar tensões, o jogo passa a alimentá-las. Aí fica difícil. Mas existem soluções, sugestões que eu já ofereci aqui e que não custa repetir: por que não substituir as guloseimas gordurosas ou ricas em carboidratos por alternativas mais leves e saudáveis? Em vez de itens calóricos, espetinhos de queijo branco com tomates-cereja e manjericão, pipoca sem gordura, palitos de cenoura e nabo espetados no sal grosso. São todas opções deliciosas — além de aptas, pela forma e consistência, a aplacar a tal “boca nervosa” que nos acomete em jogos de Copa. Um dos males desse mastigar compulsivo, ansioso, é a incapacidade que acabamos tendo de sentir o gosto dos alimentos. As substituições também ajudam nisso, pelos sabores ricos e inusitados.

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Se de toda forma você considera um sacrifício trocar a empadinha pelo pedaço de aipo, saiba que esse é um desafio universal. Povos em toda a parte do mundo sofrem com a ansiedade alimentar. Os japoneses, que deram um show na fase de grupos da Copa, têm até um nome para esse “beliscar” compulsivo: kuchisabishii. Na verdade, não há nenhum problema no consumo de um salgadinho ocasional, de um bom jamón ou mesmo de um brigadeiro — o problema é o consumo compulsivo de guloseimas. Assim, diante de uma situação em que a ansiedade pode ser deflagrada, como um jogo difícil da seleção, e em que a “boca nervosa” será ativada, vale a pena recorrer a petiscos mais saudáveis. Não será pequena, do ponto de vista da saúde alimentar, a conquista de quem conseguir fazer essa substituição.

Publicado em VEJA de 14 de dezembro de 2022, edição nº 2819

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