Recentemente, lendo uma reportagem em um jornal americano, eu me peguei sorrindo. No texto publicado, que trazia estratégias mentais “inovadoras” contra o desânimo para desempenhar atividades físicas, pude identificar posturas que eu mesma já adotava há mais de duas décadas, ao iniciar a jornada que me tornou a pessoa ativa e saudável que sou hoje.
As ideias que os especialistas traziam no artigo poderiam ser traduzidas em uma premissa simples: enquanto o exercício em si não lhe trouxer prazer, associe outros prazeres ao exercício. Nada mais eficaz do que visualizar, logo adiante, uma promessa de alegria pelo suor dispensado no presente. Imagem que me faz pensar naquela história popular do burro que trabalha incansavelmente, perseguindo até o infinito uma cenoura pendurada à sua frente.
A transição de uma vida sedentária para uma rotina de exercícios não é fácil. Muitos fatores podem minar nossa motivação, mas a sensação de falta de recompensa imediata é o pior deles. Nem todos veem projeções de médio prazo como estímulo. Os músculos são os responsáveis pelo movimento, mas a força inicial para tirá-los da inatividade é a força de vontade. Portanto, a mente também precisa ser treinada.
Um dos estratagemas propostos pelos especialistas é assistir a sua série favorita em cima da esteira. Algo que já funcionava comigo numa era pré-streaming: eu gravava um programa leve e divertido no videocassete e só me permitia assisti-lo quando estava caminhando no equipamento. Em vez de fazer com que atividade física e lazer mental disputassem espaço, agendava os dois para o mesmo momento.
O conselho também serve para as oportunidades ao ar livre. Se você se dispõe a fazer uma caminhada longa pela cidade, por que não coroar seu esforço com um lugar à sombra ao final do treino, tomando algo refrescante numa esquina charmosa da cidade e saboreando algum petisco leve e delicioso? Até hoje, sempre que podemos, meu marido e eu adotamos essa prática. Nada substitui a sensação de ter feito por merecer aquele prêmio no final.
Foi assim também que, alguns anos atrás, percorremos juntos as centenas de quilômetros do Caminho de Santiago. Àquela altura, eu já tinha incorporado os exercícios à minha rotina, e o caminho em si prometia ser, como de fato foi, uma descoberta dos meus limites. Mas o desafio prático de enfrentar as longas trilhas do dia a dia, mesmo debaixo de chuva e com o percurso enlameado, se tornava sem dúvida menos penoso quando pensávamos nas agradáveis e pitorescas paradas que nos aguardavam.
Sabíamos que, após andar por uma média de 20 quilômetros, indo de uma cidade a outra, seríamos recompensados com uma pausa em um bar, geralmente situado próximo à praça central ou à igreja matriz. Cada etapa cumprida merecia uma pequena celebração, uma alavanca para a aventura seguinte. Ao contrário do vegetal do conto, a nossa cenoura imaginária é plenamente alcançável.
Como bem nos lembra o poeta espanhol Antonio Machado, no famoso verso que já citei aqui, “o caminho não existe, o caminho se faz ao caminhar”. O meu foi percorrido dessa forma. Pode ou não funcionar para você. O importante é encontrar algo que lhe sirva de cenoura. A recompensa virá, e não necessariamente só no fim da estrada.