Aposto que, se perguntar a qualquer pessoa como é o Papai Noel, a descrição virá sem esforços ou grandes variações à mente de qualquer um. Ele tem barba alva como a neve, bochechas rosadas e usa uma roupa vermelha debruada de pele branca para aguentar o frio da Lapônia, de onde vem. Solta sonoros “ho-ho-ho”. E é gordo.
Essa qualidade final não é um detalhe. Se falta a alguém o peso adequado para vestir a fantasia numa festa, almofadas são necessárias para completar o visual dos quilos faltantes à sua persona. Um Papai Noel esbelto não convence ninguém. É uma tradição, e (trocadilhos à parte) tradições têm seu peso.
Ainda assim, no Reino Unido, um serviço de telemedicina chamado ZAVA resolveu questionar a figura do Bom Velhinho. Em um estudo recente, calculou o índice de massa corporal de dez “Papais Noéis” de filmes e programas de TV e concluiu que, para ter boa saúde, todos precisavam de dieta. Nenhum ficou dentro do IMC considerado saudável, de 18,50 a 24,99. Para estimar os dados, os pesquisadores levaram em conta a altura e o peso divulgados dos atores ou compararam desenhos animados a silhuetas reais conhecidas.
O mais gordo era o de uma animação, “O Estranho Mundo de Jack”, de Tim Burton, com estimados 136 kg e 1,65 m. O mais leve era do filme “Milagre na Rua 34”, de Les Mayfield. Na trama, o personagem vivido por Richard Attenborough (1,68 m e 79 kg) vai ao tribunal para provar que é o Papai Noel. Será que os quilos a menos atrapalharam a causa?
A ideia da ZAVA era chamar atenção para uma pesquisa sobre hábitos alimentares nas festas de fim de ano. Um quarto das 2.000 pessoas ouvidas disse achar que a figura rechonchuda do Papai Noel estimulava excessos. No entanto, menos de um quinto afirmou que manteria os hábitos saudáveis cultivados ao longo do ano na noite de Natal, e mais da metade da amostra admitiu que mandaria a dieta às favas nas festas.
Curiosamente, nem sempre Papai Noel foi obeso. Sua origem remonta à história de São Nicolau, conhecido por ser bom e generoso, sobretudo com crianças. O personagem se popularizou nos Estados Unidos com o “Sinterklaas” dos imigrantes holandeses. Inspirado em Nicolau, ele era descrito como um homem magro e alto, com longas barbas brancas e as vestes vermelhas de um bispo.
Foi em um poema de 1923, “A Visit from St. Nicholas” (uma visita de São Nicolau), que a figura ganhou porte. Nas palavras do escritor americano Clement Clark Moore, o senhor que sai da chaminé tem um rosto largo, de faces rosadas, o nariz vermelho como cereja e uma “pequena barriguinha redonda” que se sacudia “como uma tigela de gelatina” quando ele ria. Aparentemente, com o passar dos anos – como acontece com quem se descuida –, os quilos se acumularam na cintura do Papai Noel.
Considerando o rigoroso inverno no hemisfério norte, dá para entender que, por lá, haja dificuldades em manter a disciplina nessa época. Mas vale termos a consciência de que, inspirados por cenários nevados povoados por pinheiros e renas, adotamos um cardápio natalino pouco afeito aos nossos trópicos. Ao justificar os exageros como uma recompensa ao término de um ano desafiador, reconhecemos a busca por conforto contra tempos ansiosos e exigentes. Embora seja compreensível a procura por um aconchego digno do frio escandinavo, que ela se reserve só a uma “noite feliz”. Desejo a todos boas festas!