Como se sabe, a Páscoa não tem data fixa. Neste ano, quiseram as particularidades do calendário que a Sexta-feira Santa caísse em 7 de abril, coincidindo com o Dia Mundial da Saúde. Essa é a data na qual, em 1948, foi fundada a OMS, agência especializada em saúde subordinada à ONU, a Organização das Nações Unidas. A coincidência é bem-vinda, se pensarmos que o sentido mais profundo da Páscoa é o de renovação. O tema escolhido pela OMS para celebrar seus 75 anos é “saúde para todos”. Mas é importante pensar que essa empreitada pode muito bem começar com cada indivíduo. Embora trabalhar para melhorar a vitalidade global pareça uma tarefa monumental, devemos refletir sobre as mudanças individuais e cotidianas que estão ao nosso alcance para renovar nossa própria saúde e, quem sabe, inspirar outros a fazerem o mesmo.
Alguns pilares básicos da boa saúde são amplamente conhecidos: alimentação equilibrada, prática regular de exercícios físicos, sono de qualidade, gerenciamento do estresse e hidratação adequada. Quando um desses pilares é abalado, o equilíbrio fica comprometido. É o que acontece com quase metade da população mundial que não tem acesso a saneamento adequado. Ou com contingentes imensos de pessoas que vivem nos chamados “desertos nutricionais”, existentes inclusive em países ricos: regiões periféricas com alta oferta de alimentos processados, mas onde faltam verduras e legumes frescos.
“Manejar corretamente o estresse e a ansiedade do dia a dia é desafio do nosso tempo”
Quem não vive problemas conjunturais sérios assim pode, com facilidade, se hidratar melhor e manter bons hábitos alimentares. Incorporar mais movimento à rotina não deveria ser um problema, ainda que muitos insistam em apontar a falta de tempo para justificar a atividade física limitada. Vários estudos mostram que bastam quinze minutos diários de algum exercício que aumente a frequência cardíaca para melhorar o condicionamento.
A importância de cuidar do sono e da saúde mental é tamanha que, a fim de ressaltá-la de modo adequado, seriam necessários alguns artigos à parte. Manejar corretamente o estresse e a ansiedade do dia a dia, garantindo ao cérebro a faxina propiciada por um bom descanso noturno, é um dos desafios do nosso tempo. Diante dos excessos de informação e de demanda, é fácil negligenciar esse respiro que previne impactos prejudiciais. Algumas pessoas encontram relaxamento antes de dormir em uma prosaica xícara de chá. Para outras, comer um sanduíche ou saborear um chocolate ajuda a cair no sono. Vale frisar que esses são alimentos que, se consumidos conscientemente, com motivação terapêutica e parcimônia, não teriam por que serem proibidos. Essa, aliás, é uma consciência que tem crescido, como demonstram os programas de reeducação alimentar mais modernos, que passaram a aceitar a cultura alimentar de cada um, tornando-se mais flexíveis e adaptáveis. Estudos mostram que dietas menos restritivas podem trazer resultados mais lentos, mas com mais chances de serem mantidos.
Que os ideais de renovação da Páscoa contribuam para a saúde de todos, na medida justa e necessária para cada um, sem que ninguém tenha de abrir mão dos prazeres e singularidades dos momentos festivos. Não é demais lembrar que eles também ajudam a compor nosso bem-estar.
Publicado em VEJA de 12 de abril de 2023, edição nº 2836