O poeta Dylan Thomas escreveu que não devíamos ingressar de forma mansa na noite suave, que a velhice devia arder e se inflamar ao final do dia. Mais jovem, quando li esse poema, essas palavras me soaram vazias. Para mim, a velhice eram apenas debilidade: o declínio do corpo, da mente e mesmo do espírito.
Eu via meu avô sofrer dores e achaques. Antes ágil e orgulhosamente autossuficiente, aos sessenta anos ele tinha dificuldade em segurar um martelo e não conseguia ler sem óculos o rótulo de um pacote de biscoitos Triscuit. Eu via minha avó esquecer as palavras, e chorei quando ela passou a esquecer o ano em que estávamos.
No trabalho, eu via as pessoas perto de se aposentar, os olhos sem brilho, o sorriso sem esperança, contando os dias em que deixariam tudo aquilo, mas tendo apenas uma vaguíssima ideia do que fariam quando tivessem um enorme tempo livre o dia todo, todos os dias.
No entanto, à medida que eu mesmo envelhecia e passava mais tempo com gente no quarto final da vida, passei a enxergar outros aspectos desse processo. Meus pais agora estão na faixa dos 85 anos, cheios de vitalidade como sempre foram, envolvidos em relações sociais, buscas espirituais, caminhadas, contato com a natureza e até iniciando novos projetos profissionais. Aparentam a idade, mas se sentem os mesmos que eram cinquenta anos atrás, e se admiram com isso.
Quando algumas faculdades ficam mais lentas, entram em ação mecanismos extraordinários de compensação — mudanças positivas de atitude e disposição, acompanhadas pelas vantagens excepcionais da experiência. Sim, o intelecto mais idoso pode ser mais lento do que o mais jovem para processar informações, mas consegue sintetizar de forma intuitiva toda uma vida de informações e tomar decisões mais inteligentes, baseadas em décadas de aprendizado com seus próprios erros.
O Bom da Idade
Entre as várias vantagens da velhice, eles têm menos medo de calamidades porque já enfrentaram algumas no passado e conseguiram superá-las. Sabem que podem contar com a resiliência, tanto a própria quanto a do outro. Ao mesmo tempo, aceitam bem a ideia de que podem morrer logo. Isso não quer dizer que queiram morrer, mas que não temem a morte. Viveram de forma plena e tratam cada novo dia como propício para novas experiências.
Como neurocientista, pergunto-me por que algumas pessoas parecem envelhecer melhor do que outras. Será uma questão genética, de personalidade, de condição socioeconômica ou mera sorte? O que se passa no cérebro, que move essas mudanças? O que podemos fazer para deter a perda da agilidade cognitiva e física que acompanha o envelhecimento? Muita gente vive bem aos oitenta ou noventa anos, enquanto outros parecem se retirar da vida, prisioneiros de suas enfermidades, socialmente isolados e infelizes. Quanto controle temos sobre nosso futuro, e quanto é predeterminado?
Unindo pesquisas recentes em neurociência do desenvolvimento e psicologia das diferenças individuais, [o livro] O bom da idade apresenta uma nova abordagem de nossas percepções sobre as décadas finais da vida. Baseando-se em várias áreas de estudos, este livro demonstra que o envelhecimento não é apenas um período de decadência, mas um estágio original de desenvolvimento que — tal como a infância ou a adolescência — traz em si suas próprias exigências e vantagens.
Esse argumento provocador pode revolucionar a maneira como planejamos a velhice enquanto indivíduos, integrantes de uma família e cidadãos em sociedades industriais onde a expectativa média de vida continua a aumentar. Ele nos oferece escolhas possíveis que manterão nossa agilidade mental na casa dos oitenta, dos noventa e talvez ainda mais. Não precisamos ingressar trôpegos, apáticos e encurvados naquela boa noite; podemos aproveitá-la bem.
* David Levitin é neurocientista e autor de O Bom da Idade, pela Editora Objetiva