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“O corpo da mulher não é realmente dela. E isso é uma forma de violência”

É o que denuncia escritora francesa que cobriu a guerra no Iraque em livro protagonizado pela opressão feminina

Por Diogo Sponchiato Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 9 Maio 2024, 18h50 - Publicado em 4 dez 2023, 08h50

Emilienne Malfatto sabe o que é uma guerra. Cobriu por quase dois anos, como fotojornalista freelancer, os conflitos no Iraque entre 2015 e 2016. Mas decidiu transpor à ficção outro tipo de guerra: a violência que as mulheres sofrem no dia a dia de forma velada ou explícita.

Que por você se lamente o Tigre, seu primeiro romance, recém-publicado no Brasil pela Editora Nós, evoca o rio que percorre um dos berços da civilização, mas também o drama feminino da opressão.

A protagonista vive sob o terror de um patriarcado que não tolera liberdades, entregas, deslizes – muito menos nas coisas do amor. A tensão de um conflito armado fora de casa se estende com outra roupagem nas obrigações e nas ameaças em família.

Numa narrativa dura, em que a morte figura a todo instante, irrompem, na passagem dos capítulos e das vozes das personagens, citações da Epopeia de Gilgamesh, o épico mesopotâmico também nascido naquela terra há milhares de anos. Lá e cá, dramas persistem, e a literatura segue sua sina de expiar traumas individuais e coletivos.

Também segue sua vocação de denunciar… Nesse caso, “a violência e a dominação” exercidas contra a mulher. Um problema que Emilienne Malfatto faz questão de ressaltar que não se restringe ao mundo árabe.

Com a palavra, a autora, que ganhou o Prêmio Goncourt de primeiro romance, e esteve na última edição da FLIP.

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Que por você se lamente o Tigre

Quanto suas experiências no Iraque moldaram sua visão de mundo e sua escrita?

Imensamente. Me mudei para o Iraque quanto tinha 25 anos e morei lá, cobrindo a guerra como freelancer, durante quase dois anos. É uma experiência incomum, que certamente ajudou a moldar quem sou hoje e a forma como enxergo o mundo. Quanto à literatura, creio que não teria escrito ficção se não fosse essa experiência. Ao cobrir uma guerra, ao viver num país em guerra, inevitavelmente acabamos sofrendo algum tipo de trauma.

E todos nós lidamos com o trauma à nossa própria maneira. Acho que a minha forma de lidar com ele foi escrevendo ficção. Na verdade, eu nunca tinha escrito uma linha ficcional até escrever meu primeiro romance, Que por Você se Lamente o Tigre. Nem era minha intenção fazê-lo. O livro não foi planejado. Ao escrevê-lo, parecia que o texto já estava pronto em algum lugar do meu subconsciente, e eu estava apenas digitando, como se estivesse tirando algo do peito.

No momento em que uma importante ativista pelos direitos das mulheres permanece presa no Irã – a iraniana Narges Mohammadi, laureada com o último Prêmio Nobel da Paz -, qual é mensagem mais urgente do seu livro?

Quando escrevi o livro, não havia nenhuma mensagem. Como eu disse, foi mais uma reação pessoal ao trauma e uma forma de tirar algo do meu inconsciente. Mas hoje, olhando com alguma distância, acho que as duas mensagens que podemos tirar são o testemunho (embora fictício) da violência contra as mulheres e o fato de todas as personagens do livro serem vítimas. Até o assassino é uma vítima: uma vítima do sistema, da sociedade, daquilo que ele acredita que a sociedade precisa e quer que ele faça. Além disso, há a questão de que essa situação não é exclusiva do Iraque ou do mundo árabe; é global, com suas nuances e especificidades.

Qual o principal desafio enfrentado pela protagonista do livro que acredita ser compartilhado pelas mulheres de outras terras e culturas hoje?

Bem, a violência contra as mulheres é, infelizmente, compartilhada hoje em dia em todos os países e culturas, e penso que sempre esteve no passado. Minha ficção se passa no Iraque, mas, na verdade, é a história de um feminicídio que pode ser contada de quase todos os lugares do planeta.

No Brasil, foram registrados 1 410 feminicídios em 2022. Na França, um país bem menor, 118. Matar mulheres é bastante comum. E a opressão – para falar de algo mais insidioso – também é extremamente comum no nosso dia a dia. Por que a maioria das mulheres convive com algum tipo de medo, experimentando em um ou outro momento a sensação de ser uma presa?

Meu livro fala muito sobre como o corpo da mulher não é realmente dela: antes de tudo, pertence aos homens. E acho que esse também é o caso em muitos lugares: pode ser encobrir, mas também pode ser sexualizar o corpo feminino, fazendo as mulheres pensarem que seu valor reside em sua aparência. Essa é outra forma de exercer violência e dominação.

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