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Viagem ao redor do jardim (ou o que aprendemos com as plantas)

Em um texto híbrido, escritor colombiano reflete sobre o que o reino vegetal tem a nos mostrar e ensinar - dentro e fora dos livros

Por Diogo Sponchiato Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 9 Maio 2024, 10h00 - Publicado em 27 fev 2024, 07h56
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  • Tal qual mata densa (e preservada) em que se misturam e se confundem raízes, galhos, folhas e flores, a escrita de Efrén Giraldo combina diário, memórias e ensaio em um exercício que permite ao autor e seus leitores (re)aprender o valor do verde que oxigena a vida no planeta.

    Sumário de Plantas Oficiosas, publicado pela editora Fósforo, se desenvolve feito uma muda que não sabemos o que vai virar, mas, com água, sol e adubo na medida, cresce e frutifica em um texto híbrido sobre a força e as mensagens do reino vegetal, no mundo real e naquele imaginado pelos livros e a arte.

    Professor universitário e jardineiro amador, Giraldo deu início ao que viria a ser a obra no auge da pandemia de Covid-19. Sua escrita parte de espécimes e espécies que integram a paisagem cotidiana, mas às quais nem sempre se devota atenção, e se ramifica pelo herbário da escritora Emily Dickinson, pelos poemas ilustrados de William Blake, pelas coleções históricas da flora latino-americana, por álbuns de figurinhas, títulos de ficção científica, instalações artísticas, meditações filosóficas, políticas e ambientais…

    É como a trepadeira imprevisível que, se espalhando pelo jardim, provoca, preocupa e encanta ao mesmo tempo.

    Giraldo é filho de camponeses e se tornou um especialista na arte do ensaio como gênero literário. Sua ligação com a terra e a paixão pela literatura fazem germinar um surpreendente inventário vegetal – dentro e fora dos livros.

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    Sem as plantas, não estaríamos aqui contando história – nem viraríamos as páginas do Sumário e de tantas outras obras cultivadas pela nossa espécie. E ainda temos muito o que aprender com elas.

    Com a palavra, o autor.

    efren-giraldo
    (Foto: Ricardo Patiño/Reprodução)
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    Depois do frutífero exercício que deu origem ao livro e suas vivências como jardineiro amador, o que de mais notável aprendeu com as plantas?

    A princípio, sua capacidade de ensino. As plantas podem ser as referências mais importantes tanto para a escrita como para a vida. Em segundo lugar, e mais especificamente, sua resiliência e capacidade de adaptação. As plantas podem nos ensinar a enfrentar circunstâncias adversas. Em terceiro lugar, a importância de estar ligado a um lugar. Isso significa que, uma vez que precisam permanecer ali, são obrigadas a melhorar seu entorno. Também poderia acrescentar a perturbação que as plantas criam em nossa noção de temporalidade. E, por último, sua grande capacidade de conferir vida aos outros viventes. As plantas não só modificam e melhoram o espaço vital como também o produzem.

    A que atribui a falta de obras literárias que trazem o ponto de vista das plantas?

    Talvez se deva a uma longa tradição que remonta a Aristóteles, segundo a qual a arte literária se dedicaria com exclusividade à representação de ações humanas. Isso deixaria a comunicação, o pensamento e a ação das plantas numa espécie de limbo. O filósofo Evando Nascimento, autor O Pensamento Vegetal, diz claramente: as plantas não foram convidadas para o banquete filosófico.

    Ainda assim, é provável que, diferentemente da ficção narrativa, o ensaio e a lírica tenham sido mais propensos a encarnar a sensibilidade vegetal. Não se trata apenas de assumir seu lugar como protagonistas, senão de nos ensinar uma relação única com o ambiente e os demais seres.

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    Porque não se trata somente de fazer parte do espaço ou mesmo de chegar a ser personagem ou narrador. Mais interessante que isso é assumir sua voz, sua sensibilidade e sua presença como uma referência de convivência e ação coletiva. Nesse sentido, a ficção deveria incorporar a possibilidade de um ponto de vista vegetal, da mesma maneira que, mais recentemente, o ponto de vista dos animais ganhou relevância ética e estética.

    No livro, você menciona a narrativa construída sobre plantas como a coca e a maconha que, em determinado momento, devido à ligação com as drogas, o tráfico e a violência, ganharam ares de vilãs aos olhos da humanidade. Acredita que, com a maior consciência de seu papel original e dos potenciais inclusive terapêuticos, elas vivam uma espécie de redenção?

    É provável que sim, sobretudo porque a ficção, o ensaio e a arte podem transformar nossa visão e, nessa medida, prover mudanças de sensibilidade. Sua capacidade de abrir horizontes e instalar novas sensibilidades permite que as possibilidades da imaginação estejam acompanhadas pela flora. No entanto, como ainda prevalecem estereótipos e fatores de exploração e extração descontrolada, tal mudança pode continuar sendo difícil.

    “Redenção” é uma palavra talvez carregada demais de ressonâncias religiosas. Seria mais apropriado deixá-la de lado. É olhando as plantas e buscando ser semelhantes a elas que decidiremos algumas chaves do nosso futuro como humanidade. E, nesse aspecto, as plantas podem ajudar a ficção e a arte, ou serem ajudadas por elas, dadas suas capacidades e aberturas para os mundos por vir. A inventividade humana deve necessariamente se aproximar da inventividade vegetal.

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