João Doria não tinha outra saída a não ser desistir da candidatura, porque sua situação era semelhante à do servidor demitido que é “exonerado a pedido”. Ele demorou, mas enfim se rendeu às evidências há muito tempo evidentes: ninguém queria vê-lo presidente da República, nem o PSDB nem outros partidos nem o eleitorado.
O ex-governador foi desde o início rejeitado, a despeito dos excelentes serviços prestados ao combate à covid-19 e ao estado de São Paulo. Pecou por não reconhecer suas fragilidades principalmente decorrentes do fato de que inspira antipatia e não leva jeito para a política. Conquistou com esforço próprio a prefeitura e o governo de São Paulo e acreditou que poderia fazer o mesmo enfrentamento na disputa pela Presidência.
Não levou em conta que São Paulo é forte, mas não é o Brasil e não teve habilidade (muito menos humildade) para consertar os desacertos que ele mesmo construiu.
Alguns deles: a tentativa de expulsar Aécio Neves, a ofensiva para derrubar Bruno Araújo e assumir o comando do PSDB, a campanha desagregadora nas prévias e, depois delas, a ausência de articulação para atrair de maneira eficaz apoios dentro e fora do partido. Mais recentemente, o desastroso ensaio de recuo para ficar no Palácio dos Bandeirantes.
O último gesto, o de ameaçar resolver a candidatura na Justiça, funcionou como uma pá de cal, pois deu aos desafetos o pretexto ideal para forçá-lo a sair do jogo. Saiu vencedor das prévias e, no lugar de crescer, foi minguando até perder o apoio de seu até então maior aliado e sucessor, o agora governador Rodrigo Garcia.
João Doria pode ser, e tudo indica que seja, um excelente gestor. Mas, na política, é um desastre. E, quando se trata se eleição, até políticos que fingem não ser cria do meio o que mais fazem é política.
O que se diz no entorno do ex-governador é que a tendência dele é de novo se render às evidências e voltar para a iniciativa privada.