A Venezuela do ditador Nicolás Maduro tem cerca de 2000 generais. O Brasil fica bem atrás, com 300. Mas a quantidade de militares, de todos os níveis, nesses dois países é praticamente a mesma: 360 000.
Não há nada de absurdo com os números brasileiros. O que salta aos olhos é o índice venezuelano, um dos maiores do mundo. Há muito cacique para pouco índio, ou muito general para pouco soldado.
A diferença estatística se dá porque, na Venezuela, os militares ganharam funções extras. A Constituição de 1999, impulsionada pelo então presidente Hugo Chávez, afirma que entre suas funções das Forças Armadas estão a cooperação em tarefas de segurança interna e a participação no desenvolvimento nacional.
Chávez nomeou vários militares para vagas no governo e nas estatais. Uma das áreas mais importantes relegadas a oficiais foi a logística de alimentos. Com a destruição da produção nacional, o país passou a depender da comida importada e a distribuição passou a ser vista como uma área vital para controlar a população. Dos 11 ministros que passaram pela pasta de alimentação desde 2004, 10 foram militares.
“Não há cargos militares para 2000 generais. O que acontece é que há muitos deles trabalham em outros lugares, em cargos políticos, na logística de portos ou distribuindo alimentos para a população”, diz Eduardo Heleno, professor de relações do Instituto de Estudos Estratégicos da Universidade Federal Fluminense.
Mas o desempenho deles muitas vezes foi lastimoso. Em 2010, jornais locais descobriram 130 000 toneladas de arroz farinha de trigo e massas apodrecendo em armazéns estatais. Os produtos foram importados e nunca distribuídos. Os militares também dirigem a empresa estatal de petróleo, a PDVSA, e as empresas de aço e minérios. A produção de petróleo com Chávez caiu de 3 milhões de barris por dia para 1 milhão.
Para garantir a lealdade dos oficiais, o presidente Nicolás Maduro criou um banco, um canal de televisão, uma empresa de transporte e uma companhia agrícola só para atender aos militares. “A Venezuela hoje é sem dúvida uma ditadura militar. São eles que dão ordens para Maduro, e não o contrário”, diz o historiador venezuelano Agustin Blanco Muñoz, do Centro de Estudos de História Atual da Universidade Central da Venezuela, em Caracas.
O único paralelo possível com a Venezuela é o da ditadura de Cuba. Como na Venezuela, há militares em vários cargos políticos e nas estatais. “A Revolução de 1959, comandada por Fidel Castro, acabou com a fronteira entre militares e civis. Foi aí que surgiu a ideia de um povo com uniforme”, diz o historiador cubano Boris González Arenas, da Mesa de Unidade de Ação Democrática (MUAD). Atualmente, os oficiais dirigem as empresas mais lucrativas da ilha, como as companhias de transportes, hotéis, restaurantes e lojas.