Não há muitas mulheres no Brasil com o nome Maria Juana, segundo o censo do IBGE. Mas há várias delas no México, pelo que se pode ver no Facebook.
A pergunta então é: poderia alguma Maria Juana ter inspirado a palavra marijuana, pela qual a maconha é conhecida nos Estados Unidos?
Antes de chegar aos Estados Unidos, os mexicanos já conheciam a maconha como mariguana. Em 1854, um texto do jornal El Correo de España, da Cidade do México, comentou uma afirmação do escritor francês Alexandre Dumas (1802-1870) sobre os efeitos prazerosos do haxixe:
“Os verdadeiros haxixes crescem nos vales do nosso quente país e são chamados pelo prosaico nome de mariguana (…) Nas horas perdidas, ela tem enchido de prazer os índios de Chilpancingo e entretido os moradores inocentes de La Acordada nos seus momentos de tédio”
A planta chegou ao México no século XVI, vinda de algum lugar da Ásia Central. Provavelmente, foram os espanhóis que a levaram, interessados na sua fibra.
Com o tempo, passou a ser conhecida como mariguana ou Rosa Maria. Por quê?
“Assim como outras substâncias com propriedades divinatórias no México, a cannabis acabou ganhando um nome cristão, provavelmente em um esforço para esconder sua identidade”, escreveu o historiador americano Isaac Campos no livro Home Grown: Marijuana and the Origins of Mexico´s war on Drugs (The University of North Carolina Press), lançado em 2013.
Se diz “divinatória” porque era usada em rituais pelos índios para prever o futuro. Ou, nas palavras de Campos, “produzir visões, encontros sobrenaturais e às vezes, loucura”.
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Colocando o mari à frente do nome ou como Rosa Maria, tentava-se evitar a perseguição da Igreja e das autoridades. Não foi um caso isolado. Muitas outras drogas divinatórias ganharam nomes com “Maria” e “Virgem”: semilla de la Virgen, Santa Rosa María e yerba María.
Assim, se há uma mulher por trás do nome da maconha nos Estados Unidos, essa é a própria mãe de Jesus.
A maconha foi muito usada na Revolução Mexicana, entre 1910 e 1920. O exército de Pancho Villa, chamado de Divisão do Norte, estava sempre envolto em fumaça. Ainda que não há provas de que Pancho gostasse da coisa (ele também não bebia álcool), a erva era bastante usada para acalmar os nervos depois das batalhas e nas horas em que não havia nada para fazer. A música que a Divisão do Norte costumava cantar era essa, bem conhecida:
“La cucaracha, la cucaracha, ya no puede caminar. Porque no tiene, porque le falta, marijuana pa’ fumar”.
Com o consumo crescendo nas nas ruas e entre soldados e presos, os jornais mexicanos passaram a publicar várias matérias, em que relacionavam seu uso ao crime e à loucura. Em 1920, com o fim da Revolução Mexicana, o governo local passou a considerá-la como droga e proibiu seu uso. Quem denunciasse algum usuário, a partir de 1923, poderia até ganhar uma recompensa.
As notícias sobre cannabis também foram publicadas em inglês pelo jornal Mexican Herald, da Associated Press, na Cidade do México, e lidas nos Estados Unidos. Isso gerou preocupação entre os estados americanos. Uma lei federal proibindo a posse de maconha foi imposta em 1937, dezessete anos após os mexicanos tomarem essa decisão.
Uma história normalmente contada em livros e matérias sobre a origem da marijuana é que o termo teria sido ventilado principalmente pelo empresário americano William Randolph Hearst, dono de jornais sensacionalistas. Ele teria se aproveitado do neologismo que unia duas palavras bem hispânicas, Maria e Juana, para incitar o preconceito contra os mexicanos e combater o uso da droga. Em seu livro de 2013, Campos desmonta essa hipótese.
“Essa história sobre o Hearst é só uma teoria conspiratória que nunca foi apoiada por uma pesquisa acadêmica séria. Além disso, ela é simplesmente desnecessária para explicar o movimento da palavra marijuana do México para os Estados Unidos, algo que aconteceu bastante organicamente através dos serviços de comunicações e da imprensa globalizada”, diz Campos.
Concluindo, a marijuana já era conhecida no México com esse nome antes de virar famosa nos Estados Unidos. E foram os mexicanos que primeiro proibiram o seu uso.