Sophie Charlotte de Mecklemburgo-Strelitz — ou Sofia Carlota, na tradução para o português — deu seu último suspiro há mais de 200 anos, mas nesta quinta-feira, 4, ganha nova vida em Rainha Charlotte: Uma História Bridgerton, spin-off do sucesso romântico criado por Shonda Rhimes. Ambientada cinco décadas antes da série da Netflix, a nova trama acompanha a juventude da monarca, que começou a reinar a Inglaterra aos 17 anos, quando se casou com o Rei George III — eternizado no cânone histórico como o “rei louco”. Entre essas e outras anedotas, a figura real por trás da protagonista é repleta de fatos curiosos. Saiba mais sobre sua vida:
A primeira rainha inglesa descendente de africanos

Interpretada pelas atrizes India Amarteifio e Golda Rosheuvel no universo Bridgerton, Charlotte é o foco de debates quanto a sua etnia há décadas. Em 1996, os indícios ganharam força: o historiador Mario de Valdes y Cocom, pesquisador da diáspora africana, apontou uma ligação entre a rainha e Madragana Ben Aloandro — descrita como “moura” pelo cronista Duarte Nunes de Leão — como sua possível antepassada. Segundo ele, a rainha descendia diretamente de “um ramo negro da Casa Real Portuguesa”. Outra possível evidência de suas raízes está nos retratos pincelados por Allan Ramsay, que capturou traços caracteristicamente africanos em seu rosto. Enquanto a certeza não pode ser atestada pela História, Shonda Rhimes usa a flexibilidade da fantasia e do anacronismo para imaginar uma mulher negra no comando da monarquia britânica sem ressalvas.
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Mãe dedicada
Ao longo dos 57 anos de seu casamento, Charlotte deu à luz ao nada modesto número de 15 filhos. Enquanto dois faleceram ainda na primeira infância — os príncipes Alfred e Octavius —, os demais 13 chegaram à vida adulta. Deste grupo, destacam-se o Rei George IV, o Duque Edward de Kent e Strathearn e a princesa Charlotte, que se tornou Rainha de Württemberg, território ao sul da Alemanha, quando Napoleão indicou seu marido ao cargo.

Sua descendente mais famosa é a Rainha Victoria, que ocupou o cargo de monarca do Reino Unido por mais de 63 anos, de 1819 a 1901: o segundo período mais longo na história da nação. Vem dela o nome “Era Vitoriana”, anos marcados pelo neocolonialismo e a ascensão da burguesia industrial. Victoria foi a tataravó da rainha Elizabeth II, mãe do atual rei do Reino Unido, Charles.
Patrona das artes — e de Mozart
A dramatização da Netflix inclui o surpreendente encontro entre a rainha e Wolfgang Amadeus Mozart, icônico compositor austríaco por trás de obras como a ópera A Flauta Mágica e Don Giovani, além de sonatas e missas. Na vida real, o prodígio conheceu Charlotte aos 8 anos de idade, quando passou quinze meses com sua família em Londres. Ele foi convidado a se apresentar ao casal real em 27 de abril de 1764, e compôs seis sonatas em homenagem à rainha. Em 1765, ele publicou uma carta em que diz: “Seu trono, suas virtudes, seus talentos e sua beneficência viverão para sempre em minha memória; onde quer que eu viva, me considerarei súdito de sua Majestade”.
Mal-quista por seus contemporâneos
Mesmo adorada por Mozart, a Rainha está longe de ser uma das mais queridas pelo povo britânico. Ao longo de seu reinado, Charlotte foi alvo de diversas críticas da aristocracia, que atacava com frequência sua aparência e seus traços que escapavam dos padrões europeus. O romance Uma História em Duas Cidades, de Charles Dickens, por exemplo, declara em seu início: “Havia um rei com uma mandíbula larga e uma rainha com cara de nada”. Segundo alguns registros históricos, seu próprio médico a teria descrito como “pequena e torta”. Se seus conterrâneos não a viam como glamourosa, a ficção a enxerga de maneira mais carinhosa. Além de suas versões imponentes em Bridgerton, a rainha já foi vivida por Helen Mirren no filme As Loucuras do Rei George, papel que lhe rendeu uma indicação ao Oscar.
Os seis episódios de Rainha Charlotte: Uma História Bridgerton já estão disponíveis na Netflix — e o romance Rainha Charlotte, escrito por Julia Quinn com base no roteiro de Rhimes, também chega às livrarias físicas e digitais.