A turística mansão assombrada retratada em ‘A Maldição da Casa Winchester’
Localizada em San Jose, na Califórnia, casa de filme em alta na Netflix foi construída pela herdeira enlutada de uma fábrica de armas, e é cercada de lendas
A lista de filmes mais vistos da Netflix nem sempre é composta por novidades: vira e mexe, longas relativamente antigos, mas que chegaram recentemente à plataforma, emplacam no ranking, ressuscitados pelos ávidos espectadores do streaming. É o caso do terror A Maldição da Casa Winchester, produção de 2018 que aparece em quinto entre os longas mais vistos no Brasil esta semana — e que leva para as telas a história real de uma casa que tem fama de ser “um dos lugares mais assombrados do mundo”.
Qual a história de A Maldição da Casa Winchester?
Dirigido por Michael e Peter Spierig, o filme é protagonizado pela oscarizada Helen Mirren, que vive Sarah Winchester — mulher real que herdou uma fortuna da produção de rifles do marido, e que passou a construir a residência incessantemente a partir de 1884. O filme, no entanto, foca principalmente em um dia infame na história da casa: o terremoto de 1906 que destruiu grande parte da propriedade. A produção, inclusive, coloca Sarah na casa no momento do tremor, mas não há registros de que isso de fato tenha ocorrido.
Quem foi Sarah Winchester?
A protagonista do longa teve uma história trágica na vida real. Em 1862, se casou com William Wirt Winchester, dono da fábrica dos famosos rifles Winchester. Quatro anos depois do matrimônio, Sarah deu à luz a Annie, que morreu com apenas um mês e meio de nascida. Depois da perda, o casal não teve mais filhos, e, 15 anos depois, Sarah perdeu o marido, a mãe e o sogro para a tuberculose. Sozinha no mundo aos 41 anos e com uma herança de 20 milhões de dólares, ela deixou o estado de Connecticut e se mudou para San Jose, na Califórnia, onde assumiu a construção de uma residência imponente no rancho que havia comprado com o marido — e que acabaria com fama de mal-assombrada.
Nas lendas locais, Sarah é retratada como uma mulher mentalmente perturbada, e que era obcecada por fantasmas que acreditava serem almas vingativas mortas pelas armas feitas pelo falecido marido — é essa versão, inclusive, que o filme retrata. A história, no entanto, parece apenas uma distorção para atrair turistas: ao que se sabe, ela era uma mulher enlutada extremamente reservada, o que despertava a desconfiança da vizinhança. De acordo com o livro do autor Colin Dickey, Ghostland: An American History in Haunted Places, no entanto, Sarah era uma arquiteta amadora talentosa que trabalhava com carpinteiros para dar vida às suas ideias e projetos — sendo o principal deles o que ela chamou de Llanada Villa, a propriedade que foi construída, reconstruída e reformada diversas vezes, e acabou virando ponto turístico em San José.
A Misteriosa Casa Winchester
A propriedade ganhou nome — e sua fama de assombrada — pouco depois da morte de Sarah, e o título foi cunhado pelo mágico Houdini. Apesar dos boatos sobre a mansão serem longevos, ela ganhou visibilidade em 1922, quando um casal alugou o local e abriu as portas da residência para o turismo. Para atrair o público, criou-se uma visita guiada, onde eram relatadas diversas lendas sobre o estado mental de Sarah Winchester e suas construções intermináveis. Com as histórias de assombração ganhando força, Harry Houdini foi convidado a visitar o local na noite de Halloween de 1924, e sugeriu que o local fosse chamado The Mysterious Winchester House — ou, em português — A Misteriosa Casa Winchester.
Construída no antigo rancho, a casa não é nada modesta: no total, são 160 cômodos, 2.000 portas, 10.000 janelas, 47 escadas e lareiras, 13 banheiros e seis cozinhas. No interior, há elementos estranhos, como uma escada que termina no teto, uma porta sem utilidade e o número 13 — relacionado a má sorte — espalhado por vidraças, degraus e vitrais. Sua construção, inclusive, nunca chegou a ser terminada: até a morte de Sarah, em 1922, profissionais trabalhavam incansavelmente — fortalecendo um boato antigo de que a proprietária acreditava que morreria quando o trabalho estivesse pronto e, por isso, estendia as construções o máximo possível.
Fincada no imaginário popular com histórias de que Sarah havia construído a casa para as almas vingativas das armas de seu marido, e que teria feito de maneira confusa para atrapalhar os espíritos, a propriedade passou por diversos projetos de construção e restauração para torná-la um destino cultural e turístico. Em 1970, uma grande restauração para trazer a mansão de volta ao seu apogeu começou, e pouco depois, em 1974, a mansão recebeu o status de marco histórico estadual.
Outra história que circulava na época era a de que a arquiteta, na verdade, era guiada por espíritos na construção. Segundo a revista Vanity Fair, Sarah costumava fazer sessões de trabalho noturnas em uma torre da residência, onde produzia os projetos de reforma entregues no dia seguinte aos funcionários. Ela, inclusive, tinha uma boa relação com os empregados, a quem fornecia conforto significativo — tanto que todos se recusaram a falar sobre a casa e os boatos sobre a patroa mesmo depois de sua morte.
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