Não é de hoje que assassinos em série despertam fascínio e repulsa na cultura popular — impulsos que a série Dahmer: um Canibal Americano, que lidera os mais vistos da Netflix, tem gerado em seus espectadores. Fora das telas, o estudo do cérebro desses “monstros da vida real” alimenta a curiosidade de cientistas, que buscam no órgão respostas para os horrores perpetrados por eles em vida. Esse tipo de pesquisa era o destino que a mãe de Jeffrey Dahmer, Joyce Flint, esperava que o cérebro do filho tivesse. Mas não foi isso que aconteceu.
Espancado até a morte na cadeia em novembro de 1994, enquanto cumpria quinze sentenças de prisão perpétua, o assassino em série teve o corpo cremado, mas seu cérebro foi preservado a pedido da mãe, que queria doá-lo para a Universidade de Fresno, na Califórnia. Genitora de um dos serial killers mais famosos dos Estados Unidos, ela queria encontrar no órgão alguma questão biológica que explicasse o que levou o filho a matar, esquartejar e até comer dezessete jovens entre o final da década de 70 e o início dos anos 1990. O problema é que o ex-marido, Lionel Dahmer, pai do assassino, queria deixar todo esse horror para trás, e se opunha à ideia. A discordância foi tão intensa que só se resolveu no tribunal.
No dia 13 de dezembro de 1995, mais de um ano após a morte do serial killer, os dois se enfrentaram em uma audiência que durou uma hora. Segundo uma matéria do The Washington Post, Joyce defendia que Dahmer aceitaria ser estudado. “Jeff sempre disse que, se pudesse ajudar em algo, faria o que precisasse”, disse ela a um jornal local. O pai, por outro lado, queria cumprir o desejo do filho de ser cremado, o que incluiria o seu cérebro — e saiu vitorioso. Naquele dia, o juiz Daniel George, do condado de Columbia, atendeu aos desejos de Lionel, e determinou que o cérebro de Dahmer fosse destruído, frustrando os planos científicos da mãe. “Eu diria que há uma sensação de tristeza, mas também um alívio por ter acabado”, disse John Kjentvet, diretor do Crematório Kress.