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O que é fato e ficção em filmes e séries baseados em casos reais
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Traições, bulimia e ativismo: O real e a ficção sobre Diana em ‘The Crown’

Quarta temporada da série da Netflix acompanha a conturbada passagem da princesa pela realeza nos anos 80

Por Amanda Capuano 19 nov 2020, 14h58

Adepta da discrição, a realeza britânica da era moderna vira e mexe enfrenta algum escândalo. Porém, nada ainda se compara ao furacão provocado por Lady Di, a “princesa do povo”. Em sua aguardada quarta temporada, The Crown finalmente chega aos tempos de Diana, interpretada com brilho pela atriz Emma Corrin. A série, agora ambientada nos anos 1980 e começo da década de 1990, acompanha desde o encanto inicial que ela provocou na realeza até as muitas crises no casamento com príncipe Charles (Josh O’Connor), quando o que deveria ser um conto de fadas, se revelou um pesadelo. Confira abaixo o que é real e o que é ficção na trama em torno da princesa.

De ex-cunhada à noiva do herdeiro real 

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Charles teve um breve envolvimento com Sarah Spencer, irmã mais velha de Diana, como pincela a série. Foi durante uma visita à Sarah que Charles e Diana se conheceram, quando a futura princesa era apenas uma adolescente de 16 anos. Diana, porém, não estava vestida de árvore — fantasia que seria usada por ela em uma encenação da peça Sonho de Uma Noite de Verão, na escola nem discutiu a obra de Shakespeare com o herdeiro ao trono, como viaja a série da Netflix. Na vida real, ao falar sobre esse primeiro encontro, Diana revelou que ficou encantada com Charles e chamou sua atenção com “muito barulho” ao longo do jantar em família. Ao fim, o príncipe foi ao seu encontro e pediu uma dança. O namoro só começou anos depois e, embora não se saiba se Charles realmente ligou para Sarah e pediu permissão para convidar Diana para um encontro, a irmã mais velha disse ter sido uma espécie de “cupido” da relação.

O teste bem-sucedido de Balmoral 

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Em 1980, Diana foi pela primeira vez com Charles ao castelo de Balmoral, a residência de verão da família real na Escócia. Embora o “teste” realmente exista, e tenha sido descrito por Andrew Morton na biografia Princess Diana: Her Story in Her Own Words como um momento decisivo para aqueles que pretendem estabelecer relações com a família real, a realidade foi menos cinematográfica do que a série. Ao que tudo indica, Diana nunca foi caçar um cervo imperial com o príncipe Phillip, ao invés disso, passou os dias em atividades externas com Charles e a família, e foi aprovada com louvor no crivo dos Windsors.

O desconfortável anúncio do noivado 

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A série é bem fiel ao anúncio de noivado do casal, não só nas falas como também nos detalhes de vestuário e linguagem corporal. No vídeo veiculado pela imprensa da época, um repórter diz que os dois parecem apaixonados, ao que a futura princesa responde com um tímido “sim, é claro”. Já o herdeiro do trono adiciona em tom de descaso: “seja lá o que signifique estar apaixonado”, deixando a noiva sem graça.

O almoço indigesto com Camilla Parker 

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No documentário Lady Di: Suas Últimas Palavras, feito a partir de entrevistas de Diana ao jornalista Andrew Morton, ela conta que encontrou uma carta de Camilla Parker (na época ainda Camilla Parker Bowles) em sua cama, convidando-a para um almoço durante a próxima viagem de Charles. A carta aparece em The Crown com dizeres bem próximos aos descritos por ela no documentário, e o almoço realmente aconteceu. Os diálogos, contudo, foram ficcionalizados, e Camilla nunca contou sobre os apelidos entre ela e Charles, que chamavam um ao outro de Fred e Gladys. Tudo o que, de fato, se sabe sobre o encontro é que Diana descreveu Camilla como “sorrateira” durante o almoço, fazendo-a se sentir insegura. E essa sensação a série da Netflix passa muito bem. 

O bracelete da discórdia 

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Na série, poucos dias antes do casamento, Diana descobre, acidentalmente, esboços de um bracelete com as iniciais F e G no gabinete de um dos funcionários de Charles. Sabendo dos apelidos entre ele e Camilla, ela sai do local furiosa e tenta falar com a rainha, decidida a acabar com o noivado. Na vida real, Diana conta que foi informada por alguém no palácio que Charles havia feito um bracelete para Camilla, e que encontrou a pulseira, não um esboço, embrulhada no gabinete de um dos funcionários. A ordem das letras, porém, está trocada — na vida real, a joia tinha o G na frente do F, e não o contrário. Não há registros, no entanto, de que Diana tenha tentado falar com a rainha — com a descoberta, a futura princesa cogitou acabar com o noivado, mas procurou as irmãs e foi dissuadida da ideia.

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Casamento relâmpago e solidão no palácio 

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Logo depois de anunciarem o noivado, em fevereiro de 1981, Charles partiu para uma viagem pela Oceania e deixou Diana sozinha para adaptar-se à vida no palácio. Na série, vemos a futura princesa sempre solitária, enquanto Charles ignora suas ligações. O relacionamento dos dois, assim como na produção, avançou muito rápido. No documentário Diana: Suas Últimas Palavras, Lady Di revela que houve apenas 13 encontros entre ela e o marido antes do casamento. Nos cinco meses que separaram o noivado da cerimônia, Charles passou semanas longe, viajando pela Austrália, Nova Zelândia, Venezuela, e diversas áreas do Reino Unido. Posteriormente, Diana revelou ter se sentido sozinha desde o início, e que o noivo passava semanas sem atender suas ligações

Relação minada por traições 

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Em uma cena entre a rainha Elizabeth e a princesa Anne, vividas por Olivia Colman e Erin Doherty, a monarca pergunta à filha qual é a real situação do casamento de Charles e Diana. Anna explica à mãe que Charles mantém um relacionamento com Camilla Parker (interpretada por Emerald Fennell), e que Diana é menos discreta, e ostenta uma série de amantes. É verdade que, com a crescente crise no casamento, os tabloides britânicos começaram a especular sobre a vida do casal real. Entre os assuntos mais comentados, estava o caso de Diana, até então não confirmado, com James Hewitt, o instrutor de hipismo da família. A série mostra Hewitt como o affair mais sério a princesa, confirmado por ela anos depois, na famosa entrevista Panorama, de 1995. Além dele, os jornais também ligavam Lady Di a uma série de outras “escapadas” — em 1992, conversas íntimas entre ela e James Gilbey, um vendedor de carros, vazaram para a imprensa, criando um escândalo conhecido como “Squidgygate”, em referência ao apelido carinhoso dado à Diana pelo então amante. 

A dramática viagem à Austrália

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Há um consenso entre biógrafos da realeza de que a viagem de Charles e Diana à Austrália e Nova Zelândia, em 1983, foi um ponto decisivo para o casal. A série mostra Diana insistindo em levar William, então com nove meses, para a Oceania, ao invés de deixá-lo aos cuidados de babás no Reino Unido, como era de praxe nos compromissos da coroa britânica. Essa postura causou desentendimento entre o casal. Na vida real, não houve briga: na verdade, segundo revelou em sua biografia, ela estava pronta para deixar o herdeiro, embora com o coração partido, mas Malcom Frases, então primeiro-ministro da Austrália, sugeriu que eles levassem o bebê. A decisão foi uma quebra de protocolo e deu a ela a imagem de “mãezona”, que permanece até hoje e é seguida por Kate Middleton e Meghan Markle. A essa viagem também atribui-se o crédito pelo início da “Dianamania”, uma obsessão popular por Lady Di — comparada à comoção causada pelos Beatles — bem retratada na série por cenas de multidões fervorosas, pedidos de autógrafos e entrevistas apaixonadas. Foi essa atenção, aliás, que plantou em Charles um ressentimento, já que a viagem, inicialmente, foi idealizada para que ele fosse a estrela. Em entrevista a Martin Bashir, em 1995, Diana revelou que a atenção da mídia na viagem veio acompanhada de ciúmes e situações complicadas para o casal, reproduzidas na série por meio de brigas com diálogos ficcionais. Apesar isso, os dois pareciam sempre felizes em frente às câmeras, e cenas como a do casal brincando com William no jardim e a dança em Sidney, de fato, aconteceram.

A bulimia 

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Entre os sofrimentos de Lady Di, a luta contra a bulimia ganha espaço de destaque na série. Ao longo dos episódios, não faltam cenas desconfortáveis, e infelizmente verídicas, de Diana tendo compulsões alimentares e, em seguida, forçando o vômito. Em 1995, ela revelou que o distúrbio alimentar começou poucos meses depois do noivado com Charles, e levou quase uma década até ser superado. Em entrevista a Andrew Morton, ela conta, inclusive, que teve uma de suas piores crises na noite anterior ao casamento, e que não se sentia boa o bastante para os critérios de perfeição esperados do posto que ocupava.

Abraço contra o preconceito 

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Em 1989, Diana fez uma viagem sozinha para Nova York. Em um de seus compromissos na cidade, segundo uma reportagem da época publicada pelo jornal Los Angeles Times, ela visitou um hospital no Harlem, bairro periférico da cidade, onde abraçou um garoto de 7 anos que lutava contra a Aids. A cena é retratada no último episódio de The Crown, e o abraço se dá depois que uma enfermeira diz que não há quem queira adotar a criança devido ao estigma da doença, até então em ampla disseminação. Na série, porém, há uma pequena mudança na linha temporal: a viagem acontece em paralelo aos últimos dias de Thatcher à frente do Parlamento britânico, em 1990. Embora não seja retratado, Diana já era ativista da causa anos antes — em 1987, ela estampou as manchetes dos jornais por apertar a mão de um portador de HVI na abertura do primeiro centro especializado em Aids de Londres. Segundo o guarda-costas da princesa, a família real não aprovava o seu trabalho voluntário com os soropositivos, o que vai ao encontro da reação raivosa de Charles representada pela produção.

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