‘Zona de Interesse’: o que aconteceu com a família do filme após a guerra
Produção indicada ao Oscar se baseia em história real de nazistas que viviam ao lado de Auschwitz
Indicado em cinco categorias do Oscar, entre elas melhor filme, Zona de Interesse faz um retrato chocante do Holocausto ao observar o dia a dia da família nazista que vivia feliz e sem sinais de culpa ao lado de Auschwitz, campo de extermínio de judeus localizado na Polônia. A produção de Jonathan Glazer, infelizmente, não é ficção: a história real é baseada em diversos documentos e depoimentos, tanto dos alemães quanto de funcionários da casa – entre eles judeus obrigados a trabalhar ali e membros da resistência antinazista.
A família em questão era formada pelo casal Rudolf e Hedwig Höss e seus cinco filhos. Por quase quatro anos, o clã viveu na residência bucólica que dividia terreno com o campo onde 1,1 milhão de judeus foram assassinados e queimados – a chaminé do crematório ficava a menos de 150 metros da casa. Como mostra o longa, em 1943, Rudolf foi substituído no comando de Auschwitz, mas sua esposa e filhos continuaram vivendo na vila, local chamado por eles de “paraíso”. Ele retornou em 1944 e, um ano depois, quando os nazistas foram derrotados ao fim da guerra, a família fugiu e se escondeu no Norte da Alemanha, com o intuito de fugir para a América do Sul, como muitos criminosos de guerra fizeram. Rudolf se disfarçou de agricultor em uma fazenda em Flensburg, enquanto Hedwig e os filhos ficaram em St. Michaelisdonn, a 120 km de distância do marido.
Rudolf foi encontrado em maio de 1946, após ter seu paradeiro delatado pela esposa – segundo os filhos do casal, a mãe entregou o marido enquanto os soldados britânicos espancavam o irmão mais velho. Na fazenda, Rudolf negou ser o comandante procurado, mas sua aliança de casamento tinha seu nome real e o de Hedwig gravados.
Ele foi preso em 1946 e julgado no Tribunal Militar Internacional de Nuremberg, onde descreveu com frieza os métodos desenvolvidos por ele para o assassinato em massa dos judeus em diversos campos de extermínio durante o Holocausto. Ao ser acusado de ter matado 3,5 milhões de pessoas, ele respondeu: “Não. Foram só 2,5 milhões – o restante morreu de doença ou desnutrição”. Em 1947, ele foi enforcado em Auschwitz, perto da casa onde morou com a família. Antes de sua morte, ele escreveu um relato no qual afirmava ter sido um instrumento de Hitler para a destruição da humanidade e que esperava que Deus o perdoasse.
Hedwig foi isentada de participar das atrocidades cometidas no campo, dizendo desconhecer o que acontecia do outro lado do muro de seu quintal. Empregados da casa, porém, garantiram o contrário, dizendo que ela não só sabia, como era uma feroz antissemita. A prova de que ela tinha conhecimento sobre o Holocausto se revelou nos vastos documentos e fotos da época herdados eventualmente pelo neto Rainer Höss, que divulgou o conteúdo em 2009 e travou uma briga com os demais familiares, boa parte deles ainda seguidores do nazismo.
Com o fim da guerra e a criminalização do partido, Hedwig e os filhos ficaram sem uma pensão do governo. Acredita-se que por um período eles tenham sido mantidos por amigos de seu marido. Três filhos continuaram na Alemanha e dois emigraram. Klaus, mais velho do clã, se mudou para a Austrália. Brigitte foi para a Espanha, trabalhou como modelo e foi até rosto da Balenciaga antes de se casar e se estabelecer nos Estados Unidos — ela só revelou aos familiares sua origem em 2013, aos 80 anos de idade, quando lutava contra um câncer. Curiosamente, em Washington, onde vivia, ela trabalhou por mais de três décadas na loja de uma família judia que descobriu quem fora seu pai, mas não a demitiu nem a culpou pelos crimes do genitor. A matriarca Hedwig morreu dormindo aos 9o anos de idade nos Estados Unidos, em uma das visitas à casa de Brigitte.
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