Em que idade as crianças devem ser alfabetizadas?
Há pelo menos duas maneiras de responder a essa pergunta: observando as melhores práticas em outros países e ouvindo os cientistas que estudam o assunto.
A maioria dos leitores certamente espera que seus filhos sejam alfabetizados logo que entrarem para a escola, ou seja, no primeiro ano do Ensino Fundamental. Crianças que vivem em ambientes que estimulam a leitura e curtem uma boa conversa frequentemente se alfabetizam com pouca ajuda externa – muitas vezes antes de entrar para a escola. Mas a maioria das crianças precisa ser alfabetizada, isto é, aprender a ler e escrever. E, se fizer isso no momento certo, terá melhores condições de aproveitar o que os professores ensinam na escola.
Há pelo menos duas maneiras de responder a essa pergunta. Uma delas é observar as melhores práticas. Em todos os países desenvolvidos, a alfabetização começa no primeiro ano escolar – mas a idade das crianças entrarem na escola varia dos 5 anos, em países como a Inglaterra e os EUA, a 7 anos, em países como a Finlândia. A duração do processo de alfabetização depende de características da língua e das dificuldades que isso cria para o processo de alfabetizar, e varia de alguns meses, como na Itália e Finlândia, a dois ou mais anos, como na França ou países de língua inglesa. O que é comum entre eles? Alfabetizar é a missão mais importante do início da escolarização.
Outra maneira de responder a essa pergunta é perguntando aos cientistas – psicólogos, linguistas, psicolinguistas e, mais recentemente, os neurocientistas que estudam esses processos. Sabemos hoje que diferentes áreas do cérebro se desenvolvem em diferentes etapas da vida, e que há momentos mais favoráveis para aprender e desenvolver determinadas habilidades. A área do cérebro responsável pela linguagem e pelo processamento da forma visual das palavras se desenvolve de maneira especialmente acentuada entre os 3 e 6 anos de idade. Depois dessa idade, a aprendizagem é sempre possível, mas há um preço a pagar. Esse preço é especialmente alto para as crianças que apresentam dificuldades para aprender a ler – e, de modo muito especial, para as crianças portadoras de dislexia.
As autoridades responsáveis pela elaboração dos currículos no Brasil não levam em conta nem as evidências científicas nem as melhores práticas. Os maiores perdedores são as crianças que frequentam as escolas públicas – quem matricula os filhos na escola particular espera que isso ocorra na idade certa. Esta é uma das receitas mais eficazes para aumentar ainda mais as desigualdades sociais no País.