Convocada para uma entrevista com o rei-feiticeiro Magnífico na expectativa de se tornar sua aprendiz, a jovem Asha — filha de mãe negra e pai branco — cai em desilusão ao descobrir que o soberano é, na verdade, um autoritário narcisista. Ele se gaba de proteger o reino, pedindo em troca “apenas” o desejo das pessoas. Num desafio ao déspota, a corajosa Asha faz um pedido a uma estrela — e conquista, assim, a força da magia para si. A trama de Wish: o Poder dos Desejos, já em cartaz nos cinemas, traz a marca de sua roteirista e produtora-executiva, Jennifer Lee: a criação de protagonistas femininas fortes que se rebelam contra as convenções.
Autora da bem-sucedida Frozen, ela revolucionou a fórmula dos contos de fadas tradicionais ao priorizar o amor fraternal em vez da busca por um príncipe encantado. A inspiração veio, curiosamente, do clássico Cinderela, ao qual a diretora recorria para se fortalecer na infância, quando sofria bullying. “As pessoas costumam lembrar do romance com um belo príncipe, mas Cinderela é uma personagem que foi bastante maltratada. Mesmo assim, ela perseverou, sendo fiel a si mesma”, disse Jennifer a VEJA. Como contadora de histórias, portanto, a diretora optou pelas figuras que lutam por si mesmas — como a Elsa de Frozen e, agora, Asha.
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A americana carrega mais atribuições ilustres: aos 52, é a chefe de animação da Disney. Assumiu o cargo em 2018, quando o aclamado John Lasseter foi desligado por acusações de assédio sexual. A trajetória de Jennifer começou com o que deveria ser uma colaboração temporária no roteiro de Detona Ralph. Acabou se envolvendo em Frozen e, em 2013, tornou-se a primeira mulher a dirigir um filme que arrecadou mais de 1 bilhão de dólares — além de ser a primeira da história da Disney a comandar um desenho animado. Ao lado do colega Chris Buck, ainda faturou um Oscar pelo filme.
Em 2023, com o êxito de Barbie, Greta Gerwig encostou em Jennifer na lista das produções mais rentáveis de Hollywood feitas por mulheres — mas parou por aí. Jennifer continua sendo a diretora de maior bilheteria na história. Outras duas continuações de Frozen estão confirmadas para os próximos anos. “Na última década, muitas produções mostraram que as mulheres conseguem, sim, liderar filmes”, diz. Wish, sua nova empreitada, não exibe o brilho da aventura congelante, mas é uma comemoração digna para o 100º aniversário da Disney. “Queríamos celebrar a data e todos os musicais que nos inspiraram”, diz a diretora. Mais um desejo realizado, enfim, pela fera da animação.
Publicado em VEJA de 5 de janeiro de 2024, edição nº 2874