“Você vai me machucar como fez com o outro bebê”, questiona, diretamente do útero de Marilyn Monroe (Ana de Armas), o novo feto que a atriz carrega. A cena do filme Blonde, lançado nesta quarta-feira, 28, na Netflix, é apenas uma de várias outras que irritaram ativistas pro-choice, ou seja, que apoiam a escolha das mulheres de realizar o aborto. Na trama, Marilyn interrompe sua primeira gravidez após ser aconselhada por pessoas do meio cinematográfico, para que ela não atrapalhe sua carreira meteórica. Ela se arrepende enquanto se prepara para o procedimento, que acaba sendo realizado contra sua vontade. O filme ainda mostra dois outros abortos da atriz, um provocado por um acidente e outro no qual ela é sequestrada e faz, novamente, mais um procedimento sem o direito de opinar. Na vida real, sabe-se apenas que Marilyn teria sofrido abortos espontâneos e uma gravidez ectópica — quando o embrião se desenvolve fora do útero.
O diretor da produção, Andrew Dominik, comentou o caso de forma filosófica, mas negando a intenção de ser um filme de mensagem antiaborto. “Blonde é sobre o significado de ser Marilyn Monroe, mais do que ser uma documentação da realidade”, disse em entrevista recente. “O filme mostra os medos e os desejos dela projetados no mundo ao seu redor. Ela está reagindo à história que carrega dentro de si.” O diretor também citou a recente suspensão da lei que dava o direito ao aborto em alguns estados americanos. “Quem assiste ao filme através das lentes da lei Roe v. Wade faz o mesmo, olha para o filme através de seus próprios medos, o medo de perder a liberdade. Mas Blonde não é sobre isso. E é muito difícil para as pessoas que elas enxerguem o filme fora do que elas carregam consigo. Esse é um dos perigos que a produção mostra. Não há só duas realidades, contra ou a favor. O mundo não é preto no branco.”