Pela sala de um museu com peças da Antiguidade, marcham duas figuras pitorescas com pesadas armaduras gregas. Diante de um artefato já bem conhecido pelos fãs de Shazam!, os cavaleiros retiram seus capacetes, e por baixo de toda aquela parafernália se revelam Helen Mirren e Lucy Liu — parte do trio de vilãs de Shazam! Fúria dos Deuses, que estreia nos cinemas nesta quinta-feira, 16. A trupe é formada pelas irmãs Hespera, Kalypso e Anthea (vivida pela jovem Rachel Zegler): são as Filhas de Atlas, que dão novo fôlego à trama do super-herói da DC Comics ao invadir a Terra na missão de vingar seu pai, uma espécie de deus cuja magia foi roubada há muito tempo.
Se os filmes do gênero um dia se restringiram ao público leitor de quadrinhos, hoje os super-heróis são responsáveis por parte massiva das bilheterias, e os roteiristas e diretores experimentam uma liberdade muito maior ao adaptar tais narrativas para as telonas — movimento comprovado algumas vezes pela Marvel e agora também pela DC. As Filhas de Atlas, vilãs implacáveis de Shazam!, são o exemplo perfeito: para além de diminutas referências, as personagens não existem de fato nos quadrinhos da DC Comics, e foram criadas especialmente para o filme. A inspiração é a mitologia grega, mesma fonte da qual nasceu a icônica Mulher-Maravilha.
O pai das poderosas, entretanto, tem sim antecentes nas HQs da DC, e já apareceu em mais de uma linha do tempo desse universo. Atlas é um titã grego que, segundo tal mitologia, foi condenado pelos deuses do Olimpo a carregar o peso da Terra nas costas — o que impedia que o céu caísse sobre as pessoas. Shazam é um acrônimo e cada letra representa um deus cujo poder se juntou à amálgama de habilidades de Billy Batson. Na trama, portanto, seria o responsável pela resistência do super-herói. Essa premissa deu origem às vilãs que agora aparecem no segundo filme da franquia.
Embora o longa não se aprofunde tanto nas habilidades individuais das Filhas de Atlas, retratadas como figuras todo-poderosas, as versões originais da mitologia tem origens interessantes. Hespera, vivida no cinema pela brilhante Helen Mirren, seria uma variação das Hespérides. Tratam-se de ninfas do amanhecer e do anoitecer, guardiãs de um jardim formoso com uma macieira dourada. Já Kalypso, interpretada por Lucy Liu, faz referência à ninfa responsável pela proteção da Ilha Ogygia. Na Odisséia, ela se apaixona por Ulisses e o prende por sete anos na ilha com seu encanto. Em Shazam!, possui o poder do caos. Alguns fãs da DC enxergam em Hespera e Kalypso semelhanças com outras personagens dos quadrinhos: Circe e Hera Venenosa. Fechando o trio, temos a jovem Anthea, personagem de Rachel Zegler. Na mitologia, trata-se de uma ninfa das planícies e regiões pantanosas e das flores, enquanto no cinema tem o poder da Axis, habilidade que permite rearranjar rapidamente o espaço-tempo.