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As criaturas — e o ridículo — aumentam de tamanho em ‘Megatubarão 2’

Sequência do filme estrelado por Jason Statham descarta o foco em personagens convincentes e se dedica à grandiosidade dos monstros e à plasticidade da ação

Por Thiago Gelli Atualizado em 13 Maio 2024, 23h02 - Publicado em 3 ago 2023, 15h21

Em 1954, Godzilla chegou aos cinemas japoneses e comoveu o público com sua metáfora da bomba atômica — um monstro destrutivo acordado por uma explosão de hidrogênio. Nos Estados Unidos, por outro lado, a mensagem antiguerra foi polida, e o longa foi popularizado como um divertido e brega filme B, aura que desde então circunda todas as narrativas pertencentes ou tangenciais ao gênero Kaiju, em que grandes monstruosidades causam destruição urbana. No ocidente, eles se adaptaram para filmes de criaturas, e nenhum teve mais êxito que Tubarão de Steven Spielberg, uma história sobre os dilemas da gestão pública e os impactos do homem na natureza, lembrada especialmente pela tensa perseguição e a trilha de John Williams. Mais de 30 anos depois, contagiado pelo suspense marítimo de um, a excentricidade pitoresca do outro e o ambientalismo de ambos, o autor Steve Alten iniciou a série de livros Meg, primeiro adaptada para o cinema em 2018, com Megatubarão, e agora expandida por Megatubarão 2, que estreou nos cinemas nesta quinta-feira, 3.

Cinco anos após a estreia do primeiro filme, o mergulhador Jonas Taylor (Jason Statham) agora faz parte de uma iniciativa que pesquisa e até domestica megalodontes, espécie de tubarão colossal e pré-histórica que sobrevive na Fossa das Marianas, como num cruzamento entre Sea World e Jurassic Park. Quando o espécime que mantêm em cativeiro foge, no entanto, os pesquisadores devem voltar ao fundo do mar para investigar a anomalia, e assim tropeçam em uma estação ilegal de mineração subaquática, tendo que lutar tanto contra a máfia descoberta, quanto com os animais que escapam para a superfície, incluindo um polvo enorme e répteis vorazes. 

Sem o primor prático de seus antecessores — e despida por completo de sutileza —, a franquia liderada por Jason Statham é reduto dos títulos bombásticos e másculos que abastecem estúdios desde que Jean-Claude Van Damme fez sua primeira flexão, mas, levando o ridículo a sério, consegue se destacar e entreter. Megatubarão 2, dirigido por Ben Wheatley — experiente no cinema de gênero —, aposta em cores vibrantes e cenas de ação plásticas em câmera lenta, celebrando sua forma muito acima do conteúdo ou de seus astros. Essencialmente, o filme se dedica às monstruosidades, que lutam tanto contra humanos quanto entre si, com a mesma adrenalina sentida por uma criança que bate seus brinquedos um contra o outro. O protagonista, então, não passa de um boneco que delineia emoções claras e serve para facilitar encontros progressivamente grandiosos entre algozes, que vão do oceano ao litoral, afetando um arquipélago onde se localiza a “Ilha da Diversão”, destino de influenciadores e socialites que remete a realities como De Férias com o Ex e o britânico Love Island.

O pot-pourri de pastiche une, então, espionagem, Kaiju, Spielberg e até influências do Tokusatsu, outro subgênero japonês, desta vez marcado pelos efeitos especiais e trajes super poderosos, como os Power Rangers. Na mistura, falta sangue para quem espera uma carnificina, e sobram atuações ruins — gritantes nos engessados vilões vividos por Sergio Peris-Mencheta e Skyler Samuels. Mesmo assim, o filme brilha em meio aos tons cinzentos, à ironia e à autoimportância testemunhados em blockbusters menos criativos que Hollywood regurgita. Megatubarão não deve acumular a comunidade devota de John Wick, nem a longevidade de Velozes e Furiosos, ambos sucessos de público e crítica em 2023 — mas, ao longo dos 116 minutos da sequência, realiza o que o portador do ingresso espera: proporciona risadas, artifícios e o prazer inesgotável de se ver um grande tubarão engolir um tiranossauro.

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