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Cailee Spaeny fala a VEJA sobre ser a ‘heroína operária’ de novo ‘Alien’

Atriz vem de família de fazendeiros do centro-oeste americano e buscou alicerçar a protagonista de 'Romulus' em suas próprias vivências

Por Thiago Gelli 28 ago 2024, 10h30

Aos 26 anos, Cailee Spaeny é figurinha repetida em três dos principais lançamentos do último ano. Foi, primeiro, a personagem título da cinebiografia sobre Priscilla Presley dirigida por Sofia Coppola, Priscilla, e venceu o troféu Coppa Volpi de melhor ariz no Festival de Veneza. Poucos meses depois, voltou aos tapetes vermelhos para divulgar a distopia polarizante Guerra Civil com Wagner Moura e Kirsten Dunst. Agora, é a nova protagonista destemida de Alien: Romulus, nono capítulo da saga iniciada em 1979, em cartaz nos cinemas brasileiros desde 15 de agosto.

Nele, vive Rain, uma jovem mineradora que sonha em escapar de uma colônia interplanetária poluída. Ela se une a um grupo de amigos que planeja assaltar uma nave abandonada na órbita do planeta e fugir para outro mundo mais hospitaleiro. Lá, encontra desafios inconcebíveis: de criaturas letais que pulam em direção ao seu rosto a esquemas secretos da empresa mais poderosa do universo e, claro, vários xenomorfos — as criaturas inesquecíveis que caçam humanos desde Alien, o Oitavo Passageiro.

Altamente honroso ao filme originalRomulus supera as sequências recentes Prometheus (2012) e Covenant (2017) nos efeitos visuais, emulando com refino os objetos de cena práticos que potencializaram o horror cósmico da primeira trilogia — mas os pontos fortes não param por aí. No protagonismo, Cailee ancora o enredo fantástico com trabalho digno da antecessora Sigourney Weaver, êxito que detalha em entrevista a VEJA:

Mais de 20 anos após a última aparição de Ripley em Alien – A Ressurreição, sua personagem é a sucessora que melhor evoca a imponência dela. Como conseguiu construir uma heroína de ação sem cair na ironia? Não é possível forçar que uma personagem seja durona, ou o que quer que seja uma “garota forte”. O resultado acaba bobo. O bom do primeiro Alien é que Ripley era uma personagem modesta, que não parecia ser a sobrevivente óbvia de imediato. Ela é muito afiada e percebe as coisas mais rápido que os demais, mas não é apresentada como uma heroína até que as circunstâncias a forçam a assumir o papel. O pedestal em que ela foi colocada desde então é resultado desta jornada. Usei-a como referência nesse sentido. Minha personagem não é quem seria escolhida para obliterar alienígenas no começo do filme. É apenas uma garota que havia perdido os pais, queria cuidar do irmão e sonhava com uma vida melhor, até cair na armadilha dos vilões. Além disso, nos bastidores, os atores foram priorizados pelo diretor Fede Alvarez, que filmou a história em ordem cronológica. Tivemos tempo para construir o arco dela e encontrar o que a torna imponente.

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Na contramão de outros filmes de ação e terror, a grande maioria dos sets e criaturas do filme foram construídos com efeitos práticos. Ter esse apoio tridimensional a ajudou? Foi uma das coisas mais importantes. Quando minha personagem enfim encontra um xenomorfo, foi também minha primeira vez em frente ao design da criatura. Antes disso, me escondia ou mudava de caminho assim que percebia que o animatrônico ou a fantasia estavam no set. Não queria vê-lo antes do momento decisivo, porque é impossível imitar a reação inédita. Se estivesse trabalhando com uma bola de tênis para que o monstro fosse inteiramente criado por efeitos de computação, não teria noção de profundidade nem de movimento. Não veria a baba escorrer pela cara dele e ela não voaria na minha direção graças aos ventiladores do set. É recompensador tanto para nós nos bastidores quanto para o público. 

Por que considera o efeito tão positivo? Com um filme desse tipo, o público quer ser submerso em um mundo de faz de conta que ainda seja verossímil para a imaginação humana. Quando os arredores são artificiais, o cérebro escapa dessa ilusão e a mágica se esvai. Se você sabe que o que está no quadro do filme existiu no mundo real, a experiência é incrível. Alguns dos melhores filmes de fantasia que temos funcionam assim.

O filme é focado em um grupo de jovens adultos que sonha em escapar de um planeta devastado e opressivo. Como alicerçou sua personagem em jovens reais? Quando Fede estava procurando o elenco, ele queria profissionais que poderiam começar assim que possível e que já emanavam a essência dos personagens. Por isso falamos com nossos sotaques reais, sejam eles britânicos ou do interior dos Estados Unidos. Os personagens tinham que ter os pés no chão, então não tive que criar uma figura estranha que não fosse próxima a mim. Recorri às minhas raízes e à ambientação do primeiro filme, no qual os personagens parecem naturais da parte rural dos EUA, quase como caminhoneiros no espaço. Sou do sul do centro-oeste americano, venho de uma família de fazendeiros, então queria que Rain fosse uma autêntica heroína operária.

Seja pelo formato fálico do alienígena ou pelo jeito macabro como se reproduz, Alien é apontado como uma forte alegoria das violências contra mulheres. Romulus parece alicerçar esta leitura com um novo arco perturbador de gravidez. O paralelo foi intencional? A franquia sempre brincou com o quão perturbadora é a violência pela qual mulheres passam, seja pela gravidez forçada ou as demais agressões ao corpo, que soam imediatamente familiares para pessoas do gênero feminino. Os enredos de Alien são densos, encaram muitos temas, e sinto que Fede queria juntá-los todos em um filme só. Foi a escolha certa trazer de volta tanto esses significados quanto os designs originais do artista H. R. Giger, que marcou este universo com uma natureza psicossexual muito enervante. Por isso, quando se assiste ao filme original pela primeira vez, é difícil apontar por que o terror penetra a pele desde o primeiro segundo. Tanto eu quanto Fede queríamos retomar essa sensação. 

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Este é o segundo filme que protagoniza em 2023 cheio de imagens aterrorizantes. Entre Romulus e Guerra Civil, qual roteiro mais a apavorou? Honestamente, Guerra Civil, por ser tão próximo à realidade. São dois filmes de ficção científica e terror completamente diferentes. O primeiro é sobre a queda da democracia e o segundo é, de cara, sobre uma invasão alienígena. Alien lida com várias mensagens subliminares, mas Guerra Civil joga nossos medos mais profundos na tela — não só os dos EUA, mas de todo o mundo. Para mim, Alien: Romulus é o epítome da ideia de um “blockbuster hollywoodiano de verão”. 

A diversidade entre projetos a atrai? Após Guerra Civil e Priscilla, estava procurando uma nova experiência cinematográfica. O cinema é uma Igreja Ampla. Não existe um gênero ou tom que ame mais que outro. Espero que, desta vez, um trabalho meu possa animar noites antes da volta às aulas e fazer casais se abraçarem em primeiros encontros.

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