Fortaleça o jornalismo: Assine a partir de R$5,99
Imagem Blog

Em Cartaz

Por Raquel Carneiro Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Do cinema ao streaming, um blog com estreias, notícias e dicas de filmes que valem o ingresso – e alertas sobre os que não valem nem uma pipoca
Continua após publicidade

Em novo terror, Ursinho Pooh abandona fofura e abraça até canibalismo

Após entrar em domínio público, o personagem da literatura britânica foi reimaginado pela equipe desta grotesca versão — que enoja, mas não assusta

Por Thiago Gelli Atualizado em 13 Maio 2024, 22h51 - Publicado em 11 ago 2023, 16h43

No paradisíaco Bosque dos 100 Acres, o pequeno Christopher Robin encontrou amigos animalescos capazes de falar: Pooh, Leitão, Tigrão, Ió e mais doces criaturas perfeitas para preencher a solidão de uma criança no campo, com as quais o menino podia conversar, brincar e comer guloseimas. A vinda do amadurecimento, porém, logo convocou o jovem ao mundo dos adultos, e deixou os companheiros ao léu. Até aí, a sinopse é a mesma que o tocante Christopher Robin: Um Reencontro Inesquecível (2018), mas logo toma uma curva íngreme. Cinco anos depois do filme da Disney, as histórias do Ursinho Pooh criadas por A. A. Milne entraram em domínio público, e assim o realizador Rhys Frake-Waterfield decidiu unir o conto de fadas a sua assinatura de violência grotesca e terror B, dando origem a Ursinho Pooh: Sangue e Mel — já em cartaz nos cinemas brasileiros.

Nesse enredo, os animais mágicos enfrentam um inverno severo após a partida de Christopher (Nikolai Leon), e não conseguem mantimentos para sobreviver. Desesperados, encontram uma solução à moda Yellowjackets: decidem assassinar e canibalizar o pobre Ió, ideia suficiente para destruir a psique do grupo. Vingativos, eles renunciam à humanidade, param de falar e decidem que sua missão maior é assassinar o jovem que os deixou. O menino, porém, é apenas a primeira fonte de sangue humano que agracia os brutamontes meio gente, meio bicho, Pooh (Craig David Dowsett) e Leitão (Chris Cordell) — únicos personagens clássicos do filme, que deixa a desejar no quesito Tigrão psicopata ou Corujão homicida. Sommeliers de hemoglobina, eles então passam a aterrorizar um grupo de jovens mulheres que viaja para uma casa no Bosque a fim de limpar a mente de Maria (Maria Taylor), sobrevivente de um stalker de seu passado.

O que move a narrativa é o comprometimento à piada fácil, que ousa imaginar o que aconteceria se contos infantis e a brutalidade explícita do cinema de assassinos se encontrassem. É o mesmo chavão do seriado animado Happy Tree Friends, protagonizado por adoráveis bichos sanguinolentos, ou de paródias dos anos 2000 como Deu a Louca em Hollywood (2007), no qual Willy Wonka tortura e decapita inocentes. Sangue e Mel, porém, tem pouco traquejo cômico para elevar seu artifício, ou no mínimo sustentar o ridículo, e logo abandona os referenciais claros à história da Disney para ser um terror genérico e barato dedicado a torturar mulheres cartunescas, no que é uma clara tentativa de reproduzir o sucesso recente da franquia Terrifier, abraçada por um público de nicho devido à ultraviolência esbanjada.

Continua após a publicidade
Leitão e Pooh encurralam a jovem Lara (Natasha Tosini)
Leitão e Pooh encurralam a jovem Lara (Natasha Tosini) (ITN Studios/Divulgação)

Aqui, o rabo de Ió é usado como chicote, uma jovem é pregada à parede por um facão, uma cabeça explode sob um pneu e Pooh regurgita mel em suas vítimas, mas nada chega ao nível de pantomima de outros títulos mais ousados, em que o corpo humano é apavorado e retorcido de maneiras inacreditáveis, chocantes e, logo, divertidas. Sangue e Mel habita o lugar-comum mais baixo do cinema de horror, ciente de que sua premissa é o bastante para atrair curiosos. Falta esforço nos efeitos especiais e perseguições, assim como falta qualquer tensão ou humanidade. Já, por outro lado, sobra misoginia no retrato de personagens femininas regadas a biquínis e decotes, pedaços de carne cuja função é acabar nas mãos dos grandes algozes. 

Ser levado a sério ou elogiado, porém, dificilmente era o objetivo de Frake-Waterfield ao criar o projeto. Sangue e Mel não possui qualquer mérito distintivo para tal, mas deve entrar no cânone de filmes lembrados com nojo e fascínio, geralmente vistos em festas do pijama. Confiante nisso, o cineasta já anunciou uma sequência e roteirizou, também, O Pesadelo da Terra do Nunca de Peter Pan, no qual o pó mágico certamente será diferente. Se a chave do sucesso é a pouca qualidade, esse universo cinematográfico deve ter um grande futuro.

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Black Friday

A melhor notícia da Black Friday

BLACK
FRIDAY

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de 5,99/mês*

ou
BLACK
FRIDAY
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (menos de R$10 por revista)

a partir de 39,96/mês

ou

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.